domingo, 24 de setembro de 2017

A DAMA DO IRAJÁ (1)

Eduardo Simões

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__ Nunca escondi a admiração que sentia pela doutora Janaína Paschoal, em todo o processo que levou ao “semi-impedimento” de Dilma Rousseff, uma jabuticaba brasileira. Sua coragem e a sua determinação eram louváveis, embora, por vezes, eu achasse que ela se excedia na exposição de seus motivos; prefiro uma abordagem mais técnica, mais serena, mas isso pode ser atribuído a uma característica de temperamento, que em nada desabona um caráter.
__ A coisa, porém, mudou, quando ela teve o desplante ou... não sei o que dizer, de escrever uma mensagem de apoio às iniciativas de um personagem claramente falto de juízo ou aloprado o suficiente, para numa sessão de uma loja maçônica, defender a possibilidade de o exército vir a tomar a iniciativa de um novo golpe a pretexto de defender a Constituição: o General Antonio Hamilton Martins Mourão. Não é difícil falar em repúdio dessa aberração, assim como não é difícil entender a posição indefensável do Ministro da Defesa, gravemente desmoralizado nesse episódio – aliás, ele já se autodesmoralizou bastante, quando recusou-se a seguir o seu partido e abandonar ao corrupto Governo Temer.
__ Para aqueles que têm memória curta ou não conhecem a história de seu país, é bom saber que os militares, em 1964, deram um golpe no presidente eleito justamente com esse pretexto: “salvar a democracia brasileira (prevista na Constituição) do avanço do comunismo totalitário, e o país do caos econômico”, e o resultado foram vinte anos, com muito menos democracia do que havia antes de 64 e um descalabro econômico como nunca antes na historia do Brasil, inclusive no episódio do famoso encilhamento: a dívida externa subiu de US$4 bilhões para US$102 bilhões; em 1983 o país estava insolvente e o FMI começou a mandar seus fiscais para monitorar o país; a inflação de 1963, a última do Governo Goulart, foi de 79,9%, mas a inflação do último ano do governo Figueiredo foi de 211%. Depois de tudo isso será que ainda há quem queira repetir essa história? Já não nos basta de tragédias?
__ Quem garante que essa desordem, essa desmoralização política, não é fruto justamente da longa permanência dos militares no poder, e o Estado artificial que criaram, e que impediu a renovação natural das forças políticas do país, de sorte que, quando houve a redemocratização, foram os velhos caciques, pré-64, já completamente desatualizados, com um discurso surrado dos anos 60, que dominaram a cena política? A destruição da família brasileira não foi também o preço que pagamos pelos militares terem proibido o debate político interno, principalmente quando explodiam os grandes escândalos, e els mandaram entupir os jovens de pornografia de baixa qualidade, nas pornochanchadas da EMBRAFILME, que lotavam a cabeça da juventude de sordidezes de toda espécie, que ajudaram a destruir os valores familiares e o respeito pelas mulheres, que tanto os militares de 64, quanto os de hoje, alegam querer proteger como justificativa para o golpe?  
__ Quem tem que defender a Constituição é o cidadão consciente, não se deixando arrastar por esse canto de sereia tão rouco, démodé e indigno de confiança, sequer de atenção, que insiste em nos fazer crer menores, incapazes, e por isso precisados de um ou vários “salvadores da pátria”, que sempre deixam a pátria pior do que encontraram, embora eles mesmo obtenham para si muitas vantagens. Igualmente responsáveis por essa democracia, de uma maneira muito especial, são aqueles cuja vocação, acreditamos, os arrastou para as lides do direito, para o território do Poder Judiciário, o último e mais insigne guardião da Constituição e da democracia, absurdamente tripudiado pela declaração infeliz de Janaína Paschoal e a loucura do General.
__ Mas, tudo bem! Se não podemos, nós os liberais, amantes da democracia e de uma ordem jurídica baseada na força do direito, e não da força bruta, militarizada, de quem não a tem, mas antes a usurpa do povo para, mais cedo ou mais tarde, apesar do discurso enganador, o canto da sereia, jogá-la contra o próprio povo, embora sem poder mais contar com a presença combativa de Janaína Paschoal, nem por isso devemos deixar de lutar com todas as nossas forças contra qualquer tentativa de esbulho do sagrado direito de qualquer cidadão de optar pelo político e pela ideologia que lhe parecer melhor, ainda que seja um erro, pelo qual todos devem pagar para podermos amadurecer, enquanto nação, e não ficarmos a pedir ajuda ou solução dos militares, que não estão preparados para isso, já o provaram sobejamente, como se fôssemos crianças, que toda vez que fazem uma “arte” acorrem para se esconder debaixo da saia ou as calças verde-oliva da “mamãe” ou do “papai”...
__ Estamos novamente, como em 64, num período de transição, de afirmação do regime democrático, uma plantinha tenra, recém-plantada no jardim de nossa evolução política visceralmente autoritária, capaz de gerar pérolas como a daquele general-presidente: “Juro que hei de fazer desse país uma democracia; e quem disser o contrário eu prendo e arrebento”, e é normal que ocorram esses percalços, precisamos ter paciência e agir com firmeza sempre que quiserem, seja quem for, atropelar a marcha das instituições legais, que já avançaram como nunca na nossa história no combate à corrupção, sob pena de termos que abdicar de vez da esperança de um dia formarmos uma nação digna de respeito...

(1) Para as gerações atuais, houve na época da ditadura uma peça teatral humorística chamada “Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá”, que conta a história de um travesti sonhador, que viva com a cabeça na Broadway, tanto é que escolheu o nome de uma das maiores atrizes do cinema para ser seu “nome de guerra”, sonhado com altos espetáculos e muito sucesso, desligada da realidade, até que um dia deu por si, estava madura e decadente, protagonizando espetáculos mambembes, num dos subúrbios mais pobres do Rio de Janeiro. É onde a maioria pessoas, em geral, sepulta seus mais belos sonhos de adolescência... O termo “Irajá”, tirante o bairro de verdade, que tem gente muito boa, acabou com o significado de “fracasso repentino, virada surpreendente, de alguém de quem se espera muito”...


sábado, 23 de setembro de 2017

O SÉCULO DE ADAM SMITH (1723-1790)

Eduardo Simões

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/83/Johan_Zoffany_-_Tribuna_of_the_Uffizi_-_Google_Art_Project.jpg/800px-Johan_Zoffany_-_Tribuna_of_the_Uffizi_-_Google_Art_Project.jpg
By Johann Zoffany - hAG9DaPJM3FApw at Google Cultural Institute maximum zoom level, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=22126801
A sofisticação, o desejo de mais conhecimento e cultura, os bons modos, a afetação, o progresso da ciência e da tecnologia, tudo isso “explode” no século XVIII

__ Que século! O século XVIII! Ele foi para a construção do mundo moderno o que o século XX o foi para a sua destruição. Nesse mundo de descobertas e invenções impactantes, o mundo natural e a própria sociedade humana, naquilo que ela tem de mais específico ou de mais humanístico, sofreram transformações significativas. A burguesia, enfim, toma o poder, e com a humildade de um novo rico que não sabe ainda como lidar com a realidade em que se assenhorou, busca nas classes depostas: o clero e a nobreza, alguns modelos para temperar as mudanças que virão. É ainda uma fase de transição, que acabará nas tragédias da segunda metade do século XIX e XX, auge da autossuficiência burguesa. Mas deixemos esta etapa para lá, e nos concentremos nesse período áureo onde nasceu e prosperou Adam Smith. Assim descreve o panorama intelectual da Europa Ocidental, quando do nascimento de Smith, um de seus mais renomados biógrafos: Ian Simpson Ross, em seu livro The Life of Adam Smith, começando pelos escoceses:
Thomas Reid, o filósofo que tentará se contrapor ao ceticismo de Hume, nascido em 1710, estudava no Mariscal College, de Aberdeen. Outro notável literato era o crítico Hugh Blair (nascido em 1718); William Robertson, historiador, nascido em 1720; Adam Ferguson, pioneiro da sociologia, nascido em 1724; James Hutton, geólogo, nascido em 1726; Robert Adam, arquiteto, Joseph Black, químico, e John Hunter, anatomista, todos nascidos em 1728 [e todos escoceses].
Fora da Escócia, Newton estava se aproximando do fim da sua vida, morrendo em 1727. Swift se tornava o poeta Nacional da Irlanda, em 1724... atacando o controle político e econômico dos ingleses em sua pátria. [Alexandre] Pope, em 1723,... traduzia Homero e editava Shakespeare. Neste ano Samuel Johnson [um dos mais afamados críticos literários ingleses da história, nascido em 1709] estudava na Lichfield Grammar Scholl, enquanto [George] Berkeley [filósofo idealista irlandês] e [Francis] Hutcheson [filósofo escoto-irlandês] estavam ambos ensinando em Dublin... Hutcheson estava trabalhando no seu livro “Investigação sobre a origem de nossas ideias de beleza e virtude”, editado em 1725, que tanto influenciou a Smith e Hume. O politicólogo anglo-irlandês [Edmund] Burke, que se tornará amigo de Smith, nascia em Dublin, em 1729. No continente [o filósofo] Leibniz morria, em 1716, e Kant nascia, em 1724. [Christian] Tomasius [grande jurista alemão] aproximava-se do fim de sua carreira em Halle, 1723, de onde [Christian von] Wolff [filósofo] era expulso, indo lecionar em Marburg. Voltaire publicava em 1723 seu poema épico “A Henriada”... e Rousseau ainda trabalhava como gravador em Genebra. Sem ser ainda economista, [François] Quesnay recebia, neste ano, o título de Cirurgião-Real... Os futuros filósofos, Diderot, nascido em 1713, e D’Alembert, nascido em 1717, eram ainda escolares. O Barão D’Holbach [filósofo franco-alemão], nasceu no mesmo ano de Smith, e o economista Turgot, quatro anos depois. [Johann Sebastian] Bach se tornou cantor da Thomarskirche, em Leipzig, e compunha a “A Paixão segundo São João”, em 1723, enquanto [George] Handel [compositor alemão] encerrava uma temporada em Halle e começava a compor óperas italianas em Londres. Nas colônias britânicas da América o jovem de 17 anos Benjamin Franklin ia de Boston para Philadelphia, para oferecer seu trabalho como impressor, o pai de George Washington administrava uma grande propriedade no condado de Westmoreland, Virginia, onde George nasceria, em 1732, enquanto o pai de Thomas Jefferson se preparava para ser agrimensor... e ir morar no condado de Goochland, também na Virginia, onde aquele nasceria em 1743.
__ No Brasil, também vivemos um importante momento artístico e cultural, pouco sinalizado em nossos pobres manuais escolares de História do Brasil, com as obras do fluminense Antônio José da Silva, o Judeu, nascido em 1705, e nas obras do mineiro Aleijadinho, nascido em 1730, e toda a espetaculosidade do auge do Barroco Mineiro. Por essa época, 1723, em Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Marquês de Pombal, alinhavava um casamento de conveniência, única maneira de ele adentrar à alta nobreza, algo absolutamente indispensável para quem queria fazer carreira política nas altas esferas, e assim por diante...

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Só não avisaram aos pobres...

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

ADAM SMITH – LINHA DO TEMPO

Eduardo Simões

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By attr. Conrad Metz (1749-1827) - Kirkcaldy Art Gallery exhibit, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=27606102
Tal mãe...

1726-1733 – A meninice de Adam Smith foi marcada tanto pela onipresença da mãe como por sua fragilidade física, que o mantinha afastado dos esportes e atividades violentas, muito apreciadas na época para “temperar” o espírito dos rapazes. Aliás, entre ele e a mãe desenvolveu-se, nesse período e pelo resto da vida, uma relação que alguns chamariam de “simbiótica” (de “simbiose”, caso em que se manifesta uma dependência psicológica recíproca entre mãe e filho, com variável grau de patologia). Assim descreve essa relação um biógrafo renomado de Adam Smith, John Rae (1845-1915), em seu livro Life of Adam Smith.
A mãe ocupava a totalidade do coração de Adam Smith. Ele era o seu único filho e ela, para ele, o seu único parente, tornando-se assim, cada um, tudo para o outro, desde a sua infância e adolescência, e mesmo em seus anos de reconhecimento e triunfo, quando a presença dela se fazia sentir idêntica à dos primeiros anos. Seus amigos frequentemente falavam da afeição e do carinho [em inglês “worship” = adoração] que ele devotava a mãe. Alguém que o conheceu bem os últimos trinta anos de sua vida, [de Smith]... disse que o seu coração era como uma via de mão única, direto à sua mãe”(tradução livre).
Por isso, talvez, Smith nunca se casou e nunca morou muito tempo longe de sua mãe; mas como Freud e a psicanálise não tinham ainda sido inventados, ele pode fazer um belo trabalho e levar uma vida produtiva e enriquecedora para a cultura universal...

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By Unknown - http://www.nationalgalleries.org/object/PG 1472, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=20413810

Tal filho.  
O CORAÇÃO DAS TREVAS

Eduardo Simões

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Esperem só o que está chegando...

__ Uma aluna adolescente, um tanto nervosa e um pouco mais pobre, começa a sofrer um intenso bullying de um grupo de colegas, garotos, de sua turma, após ter caído na asneira de uma ação violenta e impensada.
__ Chega à direção a notícia de que a aluna está sofrendo muito com o “cerco” desses colegas, a ponto de, inclusive, começar a tomar remédios que a ajudem a libertar-se de sua tribulação. Existe algo mais arrasador para uma personalidade infanto-juvenil que a sensação de não ser aceita por seu grupo de amigos, pelos de sua geração? – alguém, por favor, clame isso aos ouvidos de pais, professores e dos burocratas da educação!
__ A direção não hesita, e com cautela manda chamar os responsáveis pela “guerrilha”, os faz tomar consciência da situação da colega e pede-lhes compreensão. Apela para o seu espírito de turma e coleguismo, que, pelo nível da turma – Ensino Médio – já deveria estar bastante estimulado, sem falar dos apelos à discrição. Mas que nada! Ao voltarem para a sala de aula, a primeira coisa que fazem é dizer em alto e bom som, e alguns risos: “a fulana está ficando doida!” O mundo prostra, a escola esfola....
__ É verdade que a vida familiar de muitos jovens adolescentes não é fácil, em virtude da ligeireza com que pais e mães se desfazem de projetos e promessas recíprocas, se é que não tiveram a criança antes mesmo de fazerem qualquer promessa, e sem a menor ideia do que fazer com aquele “presente” inesperado. Mesmo famílias estáveis, muitas delas, demonstram não saber o que fazer com a educação de seus rebentos. A crise da família brasileira anda estreitamente de mãos dadas com a crise do sistema escolar e da educação em geral.
__ Que fazer quando uma adolescente, nessa fase tão sensível, intensa e dramática da vida, descobre que não há o que esperar muito de sua família, ou o que sobrou dela, e começa a se sentir rejeitada por sua última instância de autoestima e respeito, sua última tábua de salvação: o seu grupo de amigos na escola? Porque os jovens não têm encontram aa escola um lenitivo em a um mundo adulto repleto de decepções e desenganos? Por que as escolas brasileiras fracassam tão grosseiramente em serem comunidades infanto-juvenis? A resposta é simples: não foi para isso, para ser uma “comunidade infanto-juvenil”, que os nossos “caros” políticos reformaram o sistema escolar público e privado em São Paulo e no Brasil, e o deformam ainda mais, quase diariamente, com novas e desastradas iniciativas.
__ De olho em exames internacionais, que dão visibilidade carreiam investimentos, inclusive internacionais, no curto prazo, nossa “autoridades” pegaram um atalho e resolveram que a única vocação possível para as crianças brasileiras é se tornarem especialistas em provas e múltipla de escolha, tipo PISA, SARESP, AAP, etc., algo que demanda treinamento repetitivo, mas requer pouco uso das habilidades humanizadoras dos alunos. O seu futuro já está determinado: tornar-se um trabalhador compulsivo, gerar muito retorno para a empresa aonde for trabalhar, mesmo fracassando na sua afetividade e na sua socialização, exceto aquela estritamente necessária para ele/ela não tornar-se insuportável aos seus colegas de trabalho, dando muito lucro às empresas e pouca despesa ao estado. Enfim, um trabalhador acrítico, sem emoção, sem afetividade; uma máquina de trabalhar ou uma versão bimilenarista do escravo do primeiro milênio. Disso nós bem entendemos, não é mesmo?
__ Mas não é assim que um ser humano, muito menos um adolescente, funciona; não dá para revogar a afetividade, os sentimento, valores, desejos, etc., tudo enfim que faz a vida valer a pena, e que só os adultos infantilizados ou especialistas em educação parecem ignorar, e por causa disso minha aluna está sofrendo muito e desnecessariamente, pelas iniciativas daqueles que deveriam ser seus companheiros de caminhada e parceiros de descobertas na aventura da vida. Mas que escola é esta que estamos a propiciar às nossas crianças!
__ A escola está doente, a escola brasileira e paulista atual é um ambiente empesteado de rancores, frustrações e traumas mal resolvidos, um meio que vitimiza nossas crianças e jovens pela sua insensibilidade, pela sua paranoia pelo enxugamento de custos, pelo sentimento de inferioridade reinante, que faz nossas autoridades copiar acriticamente modelos de escolas colhidos alhures. Nossas escolas estão se tornando caricaturas grotescas das escolas americanas que a cada momento revelam o seu fracasso, visível tanto nos resultados do PISA, que essas “autoridades” tanto prezam, quanto no seu ideal de formar um cidadão democrático e consciente. De que adianta ficar numa escola de tempo integral, cercado por tanta tecnologia, para votar num espalhafato como Donald Trump? Acreditar que é o maior e o melhor e ter sua política externa dirigida pelo pequeno Israel ou limitando-se a reagir às provocações da minúscula Coreia do Norte? Os inimigos da América devem estar agora se contorcendo de alegria...
__ A solução, segundo nossas autoridades, já está a caminho: a municipalização, um remendo aposto à educação, ante a indiferença de pais e professores, para escamotear o descalabro em que se tornou o atual pacto federativo, que exige, para o seu correto equacionamento, medidas corajosas, ousadas e, ai de nós, acima de tudo... honestas. Seguimos sonhando. Com a municipalização tudo mudará, e a politicagem, tanto de direita como de esquerda, que vem exilando a pedagogia e a psicologia das escolas, só aprofundarão o drama atual.
__ Uma professora me contou, desconsolada, como um secretário de educação de um município a obrigou a promover um aluno, que, na visão dela, não tinha a menor condição de ser promovido, em virtude da influência política da família, um vício típico de escolas privadas da pior qualidade, só que por motivos diversos, e que promete se disseminar por todo o sistema de ensino público fundamental, de tal sorte que no futuro não serão os pais que invadirão as escolas pedindo explicações, satisfações, orientações de como lidar com seus meninos, e sim vereadores, prefeitos, secretários, líderes comunitários, que nem conhecem a criança referida, mas sequiosos de acrescentar feitos ao seu portfólio, que adentrarão a exigir reparações desmoralizantes aos professores e outros profissionais de educação, se não vierem já acompanhados da imprensa... A possibilidade de o professor sofrer uma grave retaliação, por alguma atitude que desagrade a essa gente será quase ilimitada.

__ O horror! O horror!  

terça-feira, 19 de setembro de 2017

ADAM SMITH – LINHA DO TEMPO

Eduardo Simões

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1726 – Smith era uma criança frágil e doentia, que requeria um desvelo extremo de sua mãe para sobreviver – se é que ela, projetando nele a sua fragilidade de viúva precoce, não agravou essa situação; a considerar também que seu pai era um homem maduro, mais de 30 anos, quando ele nasceu. Certa feita, quando de visita à propriedade de seu avô, o menino foi aparentemente sequestrado por um grupo de trabalhadores volantes ou ciganos (“tinkers”, para os escoceses (1)), sendo salvo apenas porque as pessoas deram falta precocemente do menino, e um tio, saindo a campo com alguns empregados, encontrou o acampamento dos andarilhos e resgatou a criança.
A versão mais tradicional desse episódio tenta passar a ideia de uma pobre criança levada à força, ou por meio de enganos, por uma pérfida cigana. Alguns biógrafos, porém, considerando a personalidade extremamente dispersiva e distraída de Smith, especulam se o menino, perdido em suas fantasias, simplesmente seguiu o comboio que passava, sem nem se dar conta...
Nota
(1) Os tinkers são um conceito difícil, de tão abrangente e desconhecido por nós, apesar de séculos de convivência com a cultura e a história do Ocidente. Os tinkers seriam um povo nômade proveniente da Irlanda, com costumes e dialeto próprio (eles chamam a si mesmos de “minceir” ou “pavee” que de lá teria passado às outras ilhas britânicas, uma espécie de ciganos irlandeses. A esse grupos se misturavam, nos séculos XVIII e XIX, trabalhadores volantes, desocupados, bandidos e até ciganos romani, que nós conhecemos, mostrando os efeitos perversos das mudanças econômicas e tecnológicas por que passavam as ilhas britânicas, em especial com o cercamento dos campos comunais, que levou milhares de camponeses à mais extrema penúria.    

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"Pobreza" e liberdade...

domingo, 17 de setembro de 2017

A MÁSCARA QUE CAI DE UM GOVERNO QUE NÃO SE IMPORTA COM AS CRIANÇAS

Eduardo Simões

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__ Deu num site informativo: “quase dois professores são agredidos por dia nas escolas de São Paulo”, ao contrário do que diz a propaganda do atual governo hipercapitalista do estado, que vive a apregoar as maravilhas de suas iniciativas educacionais, principalmente nos período eleitoral.
__ Essa violência que explode, e que é oculta por artifícios estatísticos, precariedade dos B.Os e por uma política ridícula de ocultação, expressa em frases do tipo “é um caso isolado”, que nos impede de ir mais a fundo nas raízes dessa violência, tem suas causas, pressupostas (é impossível fazer um diagnóstico mais profundo) tanto na violência que campeia na sociedade, e que tem diversas causas, principalmente a econômica (o desemprego generalizado, a refluxo das atividades econômicas, etc.) e que nos indica que uma boa e profunda reforma educacional não será bem-sucedida sem uma profunda e abrangente reforma da sociedade (= projeto nacional), e a cultural (uma cultura da violência, nascida de 388 anos de escravidão, além de um estado incapaz de entender e expressar os anseios da nação).
__ Nas escolas essa violência é reflexo tanto da violência cultural, contida na sociedade, que privilegia as formas violentas de resolução de conflitos (no âmbito social) e frustrações (no âmbito psicológico), como no fracasso estupendo do estado, leia-se: o grupo no poder, de gerar e gerir uma reforma educacional dirigida a quem esta deve ser realmente gerada e gerida: crianças e jovens.
__ De fato, crianças e jovens são os grandes abandonados dessa sociedade, uma vez que, para a “direita”, a educação de crianças e adolescentes não passam de despesa, enquanto para a esquerda eles lhes são indiferentes, uma vez que crianças e adolescentes não votam, não participam de passeatas, não gritam “palavras de ordem”, etc., correspondendo, por assim dizer a um “estágio burguês” da vida humana... Que tédio!
__ O atual governo de São Paulo, equivocado ou hipocritamente, fecha escolas a mancheia, sob o pretexto de que “a população juvenil está diminuindo acentuadamente”, quando qualquer um que for às ruas ou andar pelas cracolândias paulistas e de alhures, sem falar das pesquisas em jornais, só poderá sair de lá com uma pergunta: “o que fazem tantos jovens e adolescentes aqui?” Ou ainda: “será que o melhor é fechar as escolas que já existem, como faz o atual governo, a pretexto de enxugar despesas (claro!) ou adaptar as escolas a uma redução brutal da natalidade (que não aparece nos censos ou nas estatísticas), ou antes seria melhor criar um programa que atraísse para a escola tantos jovens e adolescentes perdidos para o vício e o crime organizado, além de criar uma escola que seja significativa o bastante para as crianças e jovens que ora a frequentam, de sorte que não queiram abandoná-la?”

__ Enquanto não tivermos uma reforma educacional minimamente digna do nome e uma escola que possa ser considerada verdadeiramente uma comunidade educacional centrada nas necessidades específicas de crianças e adolescentes, essa crise só aumentará, e nós, paulistas e brasileiros, ainda verteremos lágrimas de sangue, por termos tratado de uma forma tão displicente algo tão estratégico na vida de uma nação que ainda não perdeu o respeito por si mesma, que é a formação das futuras gerações...
ADAM SMITH – LINHA DO TEMPO

Eduardo Simões

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Wikipedia
Não esquecer que “ness”, no inglês médio (falado após a conquista normanda), é o mesmo “cape” (cabo) ou "promontory" (promontório).

1723 – Adam Smith é batizado, na antiga paróquia de Saint Brisse ou Bryce, em 5 de junho de 1723. No seu batistério não consta, como era costume, que ele tenha nascido naquele dia, mas considerando o alto índice de mortalidade infantil da época, inclusive por complicações de parto, é de se crer que ele tenha nascido nesse dia – batizado às pressas, para não vir a morrer precocemente, “pagão”. Mas havia uma densa nuvem de tristeza pairando sobre seu nascimento: seu pai morrera alguns meses antes e a jovem viúva resolve batizar a criança com o nome exato do pai; nem um pós-nome, como Júnior, ou um número que o destacasse do falecido marido.

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http://www.kingdombrass.org.uk

A Grã-Bretanha, dos gramados impecáveis e dos céus nublados, cinzentos, que ficariam ainda mais escuros e tristes após a revolução que estava por vir, e que o menino, que nesta igreja foi batizado, daria grande alento, aparentemente sem o perceber e desejar...

sábado, 16 de setembro de 2017

ADAM SMITH – LINHA DO TEMPO

Eduardo Simões

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By Adam Smith Business School - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=41894061


1720 – O advogado, escrivão e juiz de pequenas causas Adam Smith, natural de Aberdeen, na Escócia, casa-se com Margaret Douglas, filha de um grande proprietário de terras, Robert Douglas de Stranthendry. Smith era detentor de um pequeno salário de 40 libras/ano, que acrescido por outras vantagens e mordomias permitia ao casal um confortável padrão de vida, bem classe média. O casal morava em Kirkcaldy, uma pequena cidade portuária, no estuário do rio Forth, em oposição quase simétrica a Edimburgo, a capital do país, situada na margem oposta do dito estuário. 
Pouco tempo depois, nasceu-lhes uma criança: um menino. 

domingo, 10 de setembro de 2017

HÁ UMA DIFERENÇA; E QUE DIFERENÇA!

Prof Eduardo Simões

__ A acachapante vitória do capitalismo, que está longe de ser o ideal, sobre o comunismo, que sempre se creu perfeito, pode ser visto com “clareza” no flagrante abaixo: uma imagem de satélite da península coreana e parte da China á noite, mostrando a brutal diferença entre as duas realidades. Escolha a sua...

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http://curingo.com
Dizem que a luzinha mais forte na Coreia do Norte (Pyongyang) é  a da casa do ditador Kim Jong Un 
Copio abaixo esse belo artigo retirado diretamente do site mercadopopular.org , que eu recomendo muito

5 artistas geniais com opiniões cretinas sobre política
Por Deborah Bizarria · Em 31/08/2017

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b4/Joseph_Stalin_and_Maxim_Gorky_1932.jpg/800px-Joseph_Stalin_and_Maxim_Gorky_1932.jpg
By Unknown - [1] [2], Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=42530697
Stalin e Máximo Gorki

Quem nunca ouviu péssimas opiniões de um músico, ator ou escritor? É comum a cada nova polêmica. No passado, esse hábito também existia e não poupava sequer os artistas mais geniais que habitaram a Terra.
O cidadão comum é influenciado pelos valores dos seus ídolos, que servem inclusive como uma forma de validar seus próprios. Sabedores da sua influência, e interessados tanto na maior exposição midiática quanto no engajamento dos fãs, artistas se aproveitam de turbulências política para opinar.
Seja qual for sua posição política, há certamente alguns artistas cujas opiniões você não tolera, e o contrário também acontece: muitos tendem a desvalorizar a obra de quem discorda. Portanto, vale a pena lembrar de alguns casos na história nos quais gênios da arte adotaram péssimos posicionamentos políticos.

Jorge Amado atribuiu os crimes da União Soviética à “difamação da imprensa reacionária” e fez um elogio a Stalin que vai te surpreender
Em 1951, Jorge Amado publicou O Mundo da Paz, livro pouco conhecido porque o próprio proibiria novas edições. Trata-se de um relato de viagens pelo Leste Europeu, no início da Guerra Fria. A ditadura soviética, uma das mais violentas da história humana, é associada diversas vezes à palavra “paz”, inclusive no título.
A matança de Josef Stalin sob o comando da URSS já era discutida, mas também negada. Os aparatos de propaganda stalinista tratavam tudo como mentiras burguesas, promovidas pelos EUA. E Amado não pensou duas vezes ao endossar o discurso oficial, como ele deixa claro na introdução do livro:
Escrevi estas páginas pensando no meu povo brasileiro, sobre o qual uma imprensa reacionária e vendida ao imperialismo ianque vomita, quotidianamente, infâmias e calúnias sobre a URSS e as democracias populares. (…) Pretendi [com este livro] colaborar para o re-estabelecimento da verdade e para mostrar como o trabalho construtivo da URSS e das democracias populares interessa ao mundo inteiro. (…) Como uma contribuição à luta pela paz eu o escrevi e como homenagem de um escritor brasileiro ao camarada Stálin, no seu 70º aniversário, sábio dirigente dos povos do mundo na luta pela felicidade do homem sobre a terra.”
Caso você tenha assustado com o trecho final, sobre Stalin, saiba que não é o mais elogioso do livro. Sobre um dos maiores genocidas que habitaram a Terra, Amado escreveu:
Mestre, guia e pai, o maior cientista do mundo de hoje, o maior estadista, o maior general, aquilo que de melhor a humanidade produziu. Sim, eles caluniam, insultam e rangem os dentes. Mas até Stalin se eleva o amor de milhões, de dezenas e centenas de milhões de seres humanos. Não há muito ele completou 70 anos. Foi uma festa mundial, seu nome foi saudado na China e no Líbano, na Romênia e no Equador, em Nicarágua e na África do Sul. Para o rumo do leste se voltaram nesse dia de dezembro os olhos e as esperanças de centenas de milhões de homens. E os operários brasileiros escreveram sobre a montanha o seu nome luminoso.”
Futuramente, o próprio reconheceria o erro. Em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, disse que o aprendizado foi “longo, sofrido e cruel”, além de frases marcantes como “o coletivo não é o oposto do indivíduo. Sem considerar o indivíduo como ser humano, não se pode pensar em socialismo”.
Não seria, porém, o fim dos elogios a políticos controversos. Antonio Carlos Magalhães, o ACM, foi um clássico coronel nordestino e grande amigo de Jorge Amado. Eis o que ele escreveu sobre um dos maiores apoiadores da ditadura militar brasileira:
Fala-se a seu respeito mestre Antonio. Mestre antológico na voz do povo, a transformar a cidade, a coloca-la no seu tempo, a prepara-la para o futuro. Uma obra que só um cego ou um cretino tentaria negar ou silenciar. (…) Você fez de sua administração um ato de amor, mestre Antonio.”

Vale ressaltar que a citação acima não foi retirada de um livro, mas de uma propaganda política. A campanha de ACM para governador, em 1990, contou com esse belo texto de um dos maiores escritores da história da língua portuguesa. A carta ao “mestre Antônio” foi assinada por “seu velho amigo, Jorge Amado”. 

Pablo Neruda escreveu uma “ode a Stalin” e apoiou a política cultural soviética
Jorge Amado e Pablo Neruda não tem apenas em comum o fato de serem escritores latino americanos muito respeitados pela crítica, tinham também uma participação bastante ativa na política. Os dois partilhavam da admiração pelo comunismo soviético e venceram o curioso Prêmio Stalin da Paz. Eram amigos próximos, inclusive. 
Neruda via a política cultural conduzida União Soviética como um instrumento para transformar a arte em algo mais acessível para os trabalhadores. O poeta tinha dificuldade de enxergar a política cultural soviética como ela era de fato: um mecanismo de doutrinação ideológica.
Chegou a dizer, inclusive, que a cortina de ferro se tratava de uma criação norte-americana para dissimular seus preparativos para a guerra. Numa conferência na cidade chilena de Temuco, após retornar de viagem da URSS, ficou evidente que seus sentimentos pelo ideal revolucionário soviético eram mais fortes que a vontade de reconhecer os problemas do regime.
“a lenda da cortina de ferro nos assegura que desde Praga até Vladivostok há trevas desconhecidas. Pois bem, eu vi somente claridade, fiz uma viagem através da luz.”
O ponto mais polêmico de sua carreira, porém, foi um poema em ode a Stalin, chamado “Em sua morte”. Nele, Neruda não poupa elogios ao ditador:
Camarada Stalin, eu estava junto ao mar na Ilha Negra,
descansando de lutas e de viagens,
quando a notícia de tua morte chegou como um choque de oceano.

(…)
Mais tarde o pescador de ouriços, o velho búzio
e poeta,
Gonzalito, acercou-se para acompanhar-me sob a bandeira.
“Era mais sábio que todos os homens juntos”, me disse
olhando o mar com seus velhos olhos, com velhos 
olhos do povo.
E logo por longo instante não nos falamos nada.
Uma onda 
estremeceu as pedras da margem.
“Porém Malenkov agora continuará sua obra”, prosseguiu
levantando-se o pobre pescador de jaqueta surrada.
Eu o fitei surpreendido pensando: como, como o sabe?
De onde, nesta costa solitária?
E compreendi que o mar lhe havia ensinado.
E ali velamos juntos, um poeta
um pescador e o mar
ao Capitão remoto que ao entrar na morte
deixou a todos os povos, como herança, a vida
.
Como será comum neste texto, Neruda se arrependeu. Num poema chamado O Episódio,condenou o culto à personalidade de Stalin e compôs a imagem de uma URSS rodeada pelo medo.

Nelson Rodrigues foi um dos maiores defensores públicos da ditadura militar brasileira
O comunismo não foi a única ideologia a ter defensores nas artes. Houve quem defendesse regimes ditatoriais de direita. O dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues gostava de se rotular como “reacionário”, e foi defensor do Golpe de 64 e da ditadura que o seguiu.
Recorrentemente, utilizava seu espaço como cronista de O Globo para criticar os opositores da ditadura. Dom Helder Câmara, em suas palavras, era um “falsário” e “arcebispo vermelho”. Contudo, o que mais ilustra seu apoio aos militares, era a admiração explícita pelo General Emílio Garrastazu Médici, como demonstrou na crônica Aplausos a Médici, de 1970:
É preciso não esquecer o que houve nas ruas de São Paulo e dentro do Morumbi. No Estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua. Vi o Morumbi lotado, aplaudindo o presidente Garrastazu. Antes do jogo e depois do jogo, o aplauso das ruas. Eu queria ouvir um assobio, sentir um foco de vaia. Só palmas.”
No mesmo texto, Nelson compara o general – de quem foi amigo – a Gengis Khan, Napoleão Bonaparte e John Kennedy. E escreve mais:
De mais a mais, o Brasil vive o seu grande momento. Eis o nosso dilema: ou o Brasil, ou o caos. O diabo é que temos a vocação e a nostalgia do caos. É o momento de fazer o Brasil ou perdê-lo. Esse Garastazu Médici é, neste instante, uma das figuras vitais do país. Eu ia vê-lo, ia ouvi-lo. Sim, ouvir os ruídos da sua alma profunda. Todo o mundo tem, no bolso do colete, o seu projecto de Brasil. Garrastazu tem o seu e pode realizá-lo. Ao passo que nós não temos força para tapar um cano furado.
Já sobre a “Passeata dos Cem Mil”, um dos maiores protestos contra a ditadura militar, que precedeu o AI-5, Nelson debochou:
Os 100 Mil eram filhos da alta burguesia. E, com efeito, não havia, entre os manifestantes, um preto, um favelado, um torcedor do Flamengo e sequer um desdentado. Os 100 Mil tinham uma saúde dentária de artista de cinema. Um turista, que por aqui passasse e os visse, havia de perguntar: “Mas a alta burguesia quer tomar o poder que já tem?”
A proximidade entre o anjo pornográfico e a ditadura militar se enfraqueceu quando seu filho foi preso. Nelson usou sua influência para garantir o exílio, ao invés de algum porão de tortura do DOPS. Antes de falecer em 1980, ele reviu suas posições e apoiou a anistia “ampla, geral e irrestrita” aos presos políticos.
Vale lembrar que Médici não foi o primeiro presidente a contar com a simpatia do mais importante dramaturgo e cronista brasileiro. Juscelino Kubitschek, o JK, também contava com grande simpatia do anjo pornográfico.

Jorge Luís Borges era amigo e jantava frequentemente com Videla, ditador argentino, e apoiou Pinochet, ditador chileno.
A ditadura militar brasileira matou e torturou, mas foi muito menos violenta do que regimes vizinhos. Enquanto nossos generais assassinaram pouco menos de 500 pessoas, estima-se que o chileno Augusto Pinochet matou ou torturou mais de 40 mil durante sua ditadura, enquanto o argentino Rafael Videla ultrapassou os 30 mil mortos.
Jorge Luís Borges, um dos maiores escritores da história argentina, defendeu ambos, além do ditador espanhol Francisco Franco. Ao chegar em Madri, durante a ditadura de Franco, Borges disse:
A democracia é uma superstição. Nem toda a gente entende a política, assim como não podemos todos entender retórica, álgebra ou psicologia.”
No que dizia respeito a Guerra Civil Espanhola, também declarou:
Eu estava no lado republicano, mas então percebi, em paz, que Franco era digno de elogios”.
Em 1976, a fim de ver derrotado o peronismo que ainda persistia na Argentina, Borges apoiou o golpe do general Videla com grande entusiasmo. Chegou a jantar com o presidente no palácio presidencial, num encontro que ficou registrado na seguinte foto:

http://mercadopopular.org/wp-content/uploads/2017/08/344165_15812_1.jpg

Do mesmo modo, Jorge Luís Borges apoiou Pinochet. Durante um discurso na presença do ditador chileno, quando recebeu um título de Doutor Honoris Causa, Borges disse:
Agradeço ao Chile haver mostrado à Argentina como se luta contra o comunismo, porque elegeu a branca espada antes do que a furtiva dinamite”.( In Filosofia política del poder mediático – Ed. Planeta 2013)
Borges mudaria de opinião posteriormente, alegando que não sabia da matança política promovida por ambos. No fim da vida, foi um apoiador do movimento das Mães de Maio, composto por familiares das vítimas do seu antigo companheiro de jantar.

Richard Wagner é tido como o antissemita que inspirou Hitler
Cretinas opiniões de artistas não são um fenômeno  exclusivo do século XX. Em 1850, o compositor romântico Richard Wagner escreveu um ensaio intitulado O Judaísmo na Música, no qual ele criticava a influência dos judeus na sociedade alemã. Nesse mesmo texto, defendeu ainda que estariam corrompendo a língua alemã e que seu caráter os impossibilitava de se conectar com a verdadeira essência das coisas.
Décadas mais tarde, o antissemitismo nacionalista de Wagner foi usado pelos nazistas como símbolo da superioridade alemã na música e no intelecto. Um dos maiores gênios da música clássica europeia é considerado por muitos como um inspirador de Hitler. Sua música chegou a ser tocada em ao menos um campo de concentração. Seus seguidores mais jovens, do “Círculo Bayreuth”, seriam apoiadores de Hitler mais tarde.
A extensão da associação entre os dois é controversa. Não há dúvidas de que Wagner era um antissemita e racista, crente na superioridade do arianismo alemão. O Partido Nazista também incentivou pesquisas acadêmicas para reforçar o elo com o músico.
Muitos, porém, questionam essa associação como forçada por Hitler, para compor sua imagem. Alguns afirmam que o comandante nazi jamais leu os ensaios anti-semitas de Wagner.
Seja qual for a interpretação adotada, um fato – infelizmente – é indiscutível: Richard Wagner era racista e antissemita, acreditava na superioridade alemã e fazia disso o centro da sua posição política.

O gênio de artistas não deve ser usado para validar seus discursos
Como artistas de tamanha genialidade foram capazes de apoiar ditaduras, valores antissemitas, doutrinação ideológica e outras coisas igualmente perversas? A resposta é simples: nenhum era menos humano do que os admiradores de suas obras.
Felizmente, vários deles viveram o bastante para mudar de ideia e reconhecer seus erros.  

Não se deve colocar ninguém, por mais talentoso e admirável que seja, na posição de arauto da moral e da verdade. Se nem os mais brilhantes estiveram livres da cretinice política, [Heidegger apoiou o nazismo, Máximo Gorki visitou, aprovou e recomendou os campos de concentração stalinistas, mentindo ao descrevê-los etc,] faz sentido esperar algo diferente de Gregório Duvivier ou Lobão?

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

OPERAÇÃO LOBISOMEM 2

Prof Eduardo Simões

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__ Num dia desses tive uma visão: o governador Geraldo Alckmin apareceu num noticioso televisivo a dizer que em São Paulo não haveria aquela patuscada de a PM investigar a própria PM; muito bem, mas Alckmin está ficando cada vez mais impassível, mais fleumático, como se estivesse treinando, e muito, para isso!
__ Só a boca se movia! Não percebi nem se piscava. Parecia um objeto falante! Com essa postura tão fria, tão tecnocrática, ele não vence eleição fora de São Paulo. Alckmin se desumaniza, ao contrário do que faz o esperto Lula, e por isso ele erra até quando acerta. Mas já imaginaram o que acontece quando ele erra pra valer?
__ Estou saindo da sala dos professores de minha escola, quando vejo uma revoada de crianças, meninas, vindas do prédio da escola da prefeitura, em frente, com grande alvoroço e aqueles gritinhos típicos, pelo pátio da escola. Ralhei com elas, fingindo-me sério: “Que folia é essa!”. Uma meninota, de uns sete/oito anos, com os olhos arregalados, falou-me: “o cesto do lixo (no banheiro) se mexeu!” “Como assim, se mexeu? Sozinho?” “Foi professor, ele se mexeu sozinho!” Eu pensava que a gritaria era brincadeira, mas era pânico; mas não me dei por vencido: “Isso não existe não!” “Existe sim professor, nessa escola tem demônios, eu vi!” percebi que ela falava do “dito cujo” e não das crianças “encapetadas” que tradicionalmente habitam as escolas no nosso horário de trabalho. “Que é isso, aqui não tem demônios, eu nunca vi coisa nenhuma, que história é essa?” “Tem sim, professor, tem uma amiga minha, a fulana, que viu uma mulher lá na quadra” – “quadra”, é o nome que damos a um areal na parte de trás de umas salas, comumente usado para disputas esportivas; e como as crianças só estão na escola durante o dia, pode-se dizer que as nossas assombrações são bastante audaciosas: aparecem em lugares bem públicos, em plena luz do dia, ao contrário da “Loura do Instituto”, que só aparecia à noite, nos banheiros dessa prestigiosa escola! Ela ainda se virou para duas amiguinhas, que estavam ali, e perguntou: “Não é verdade?”. Uma concordou meio em dúvidas, mas a outra discordou dizendo: “Eu nunca vi”, sem muita convicção.
__ “A coisa só faz piorar, pensei eu, e se não existe Chapolin Colorado, quem virá salvar a educação paulista dessa hecatombe?”
__ A resposta veio por meio das inúmeras assombrações digitais, que vivem a desassossegar a vida dos professores paulistas: em comunicado recente da Secretaria de Educação, com a benção do ilustre jurista José Renato Nalini, o nosso “secretário”, lembram-se? Alguém que quando deixou a escola de educação básica, ela começava a ser regida pela lei 5692/71 – ainda “contaminada” pelas disposições da Constituição de 1934! Mas com um discurso que agrada a Alckmin: “Quanto menos estado melhor!” (lei http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/a-sociedade-orfa) – nós ficamos sabendo, por meio de um belo gráfico, que teremos, a cada dois meses, que preparar um plano de ensino, um plano de intervenção e um plano de “sei lá o quê”, todos os três minuciosos e detalhados, dizendo exatamente qual a habilidade que a gente vai abordar, entre inumeráveis outras a considerar..... por turma! 
__ Como eu tenho 13 turmas, terei que fazer a cada bimestre 39 planos, e em um ano 196, para aplicar de maneira diferenciada em uns 150 alunos (para minha viabilidade mental, minhas escolas são de roça e minhas turmas são pequenas, mas já imaginaram quem pega turmas com 30-40 alunos em média!), o que dará algo em torno de 31.164 combinações diferentes para eu conferir, e dar conta, afinal eles querem que a gente justifique porque tal aluno não alcançou tal habilidade, isso sem falar das crianças “especiais”, que tem uma abordagem à parte, da qual eu não tenho a menor ideia de como fazer, e das habilidades que eu nem sei ao certo como traduzir! Vejam essa de português: “H04 - Identificar o sentido restrito a determinada área de conhecimento (técnica, tecnológica ou científica) de vocábulo ou expressão utilizados em um segmento de texto, selecionando aquele que pode substituí-lo por sinonímia no contexto em que se insere”. A solução, para os burocratas é fácil, mandar a habilidade seguida de uma série de explicações e exemplos; mas já imaginaram ter que fazer isso a cada habilidade, inclusive as que não são de sua área e que, portanto, você não está acostumado a usar! E são mais de uma centena delas, se você trabalha nos vários níveis da Educação Fundamental!
__ Só consigo imaginar duas alternativas para fazer um trabalho sério quanto a isso: o professor passar a carregar, além de tudo que ele já carrega, aqueles fichários de mesa, recentemente extintos, cheios de cartões-fichários, também extintos, para saber em qual das habilidades, ou desabilidade, se enquadra o pensamento confuso que o aluno está se expressando. Outra alternativa é fazer um colar no pescoço, feito com barbante, pendurando nele esses cartões e mais cartões, contendo as tais habilidades, organizadas do menor para o maior, de sorte a ter sempre ali, à mão, o que a SE e o Senhor secretário querem que ele faça. Talvez com o passar do tempo e o modismo, as velhas tipografias, trazidas de volta ao mundo, não se especializem em fazer cartões com bordas coloridas, uma cor para cada tema, como previsto nessas habilidades?
__ Ao chegar em casa, minha esposa conta-me algo inusitado. Uma criança do bairro fora levada ao hospital por causa de uma mordida de cachorro, e seu avô, homem da classe média local, tem uma justificativa para o fato: “Eu bem que falei para ele não brincar com cachorro em agosto, que agosto é o mês do cachorro louco”. Enquanto o governo macaqueia, na educação, as soluções falidas dos americanos, falando em colocar o São Paulo e o Brasil no século XXI, acabar com o atraso na educação, etc., nas ruas e nas escolas as pessoas seguem ajuntando lenha para as fogueiras... Só faltam as vítimas; ou será que não?

sábado, 2 de setembro de 2017

OPERAÇÃO LOBISOMEM

Prof Eduardo Simões

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bd/Lekythos_Dolon_Louvre_CA1802_n2.jpg/320px-Lekythos_Dolon_Louvre_CA1802_n2.jpg
By Marie-Lan Nguyen (2011), CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7703465

__ No início do ano 2000, quando eu era professor da EE Conselheiro Rodrigues Alves, em Guaratinguetá, encontrei numa saleta desprezada, da qual tornei-me frequentador assíduo, onde encontrei alguns livros muito antigos, mas não pouco valiosos, assim como um ferramental interessante, complexo, artefatos, que, pelo seu aspecto, logo se denotava sua antiguidade. Um funcionário que me acompanhava observou: “Foi o que sobrou do antigo laboratório” Fiquei pasmo e pensando comigo: “Como eles valorizavam e investiam em ciências no início do século passado!”
__ No ano seguinte, já na EE Costa Braga, entrei num quarto de despejo, atrás de um palco, que os alunos usavam como “camarim”, e que eu sabia ser o antigo laboratório.  Vi algumas engenhocas sobre uma lousa de mármore (lembro-me de um disco de Newton; havia outras, mas não seu nomeá-las), e comecei a abrir alguns armários de alvenaria. Que surpresa! Equipamentos de laboratório típicos dos anos 60 ou 70. Pipetas, beckeres, vasilhames graduados diversos, tubos de ensaio aos montes, e uma infinidade de pequenos frascos que, pela leitura dos rótulos, guardavam substâncias químicas, há muito vencidas. Quase chorei. Lembrei-me, com saudade dos anos 70 quando a editora Abril Cultural lançou uma coleção mensal chamada Os cientistas, em que cada número vinha acompanhado de um pequeno kit de experimentos, relativos à área do cientista em questão, junto com uma peça para se construir, no final, um microscópio; tudo em casa! O futuro era claro: seríamos uma nação de cientistas, sem abrir mão da cultura humanista geral; eis uma despesa que valia a pena ser feita!
__ Percebi, então, que os laboratórios estavam sendo substituídos por salas de computadores, onde programas simulavam experimentos científicos a custo quase zero ou por simulacros de laboratórios, caixas com equipamentos de experimentos padrões, entregue a um professor, pera ele realizar o experimento ali, na frente dos alunos que, passivos, apenas observariam. Existe algo mais desinteressante que isso? Existe sim: um burocrata ou um vendedor, querendo te convencer que isso funciona... O PRINCIPAL OBJETIVO DOS ESTADOS BRASILEIRO E PAULISTA, NO QUE TOCA A EDUCAÇÃO, É REDUZIR AS DESPESAS. Só isso!
__ Ano 2017! Estou ministrando aula, numa turma final de ENSINO MÉDIO, falando sobre as viagens espaciais, durante a Guerra Fria, quando me aventuro a dar uma lição para os meus alunos de como se comportar cientificamente diante de um fato insólito, veio-me à mente as histórias de lobisomem, frequente no folclore local, quando um aluno me chama a atenção ao dizer: “Eu tenho um tio que já virou porco!” Ante o riso geral ele completa: “Fora brincadeira, meu tio é louco e uma vez sumiu de casa. Minha mãe, no dia seguinte, encontrou um porcão enorme junto dos outros. Era o meu tio” tentei consertar: “Pera aí; sua mãe encontrou o seu tio, por causa da loucura dele, andando de quatro (nesse momento o riso foi maior ainda, pois, como acontece nas escolas brasileiras, há um clima sufocante, difuso e compulsivo pelo sexo ou tudo que remeta a sexo, principalmente as práticas mais incomuns) no meio dos porcos, fuçando o chão”. “Não professor! Ele tinha virado porco mesmo”. “Com orelhas enormes caídas, com aquele rabo e focinho redondo?” “Sim, me respondeu ele, e depois ele virou homem de novo e está lá. Eu juro pela minha mãe”.
__ Uma coisa que me chamou a atenção foi o riso tímido dos alunos enquanto ele falava da absurda transformação, como que a dizerem para si mesmos: “É melhor eu não rir muito, porque depois acontece comigo...” Mas podia ser apenas uma impressão, e por isso eu resolvi fazer uma enquete sobre o nível de pensamento mágico daquela turma – pedi que eles escrevessem em um pedaço de papel, sem se identificar, a resposta a três perguntas – eis o resultado:
__ “Você acredita que existe lobisomem ou outros animais fantásticos?” 72% afirmaram que “SIM”
__ “Você acredita na aparição de almas do outro mundo ou assombrações aparecendo às pessoas deste mundo?” 78% afirmaram que SIM
__ “Você acredita que por meio de magia alguém pode mudar a realidade ou os sentimentos ou pensamentos de outra pessoa?” 66% afirmaram que SIM
__ Estendi a enquete às outras turmas e os resultados não foram melhores: numa turma do Fundamental 89% disseram acreditar em almas e assombrações (um índice próximo ao da pré-história) e 63% em lobisomem; em outra turma do Ensino Médio 67% disse acreditar em magia. No cômputo geral pode-se dizer que na minha escola 55% dos alunos acreditam em lobisomem; para 60% deles, praticamente não há qualquer barreira entre o mundo real e o mundo dos espíritos (seus medos mais extravagantes são, portanto, reais; um aluno, da turma terminal, disse que, quando voltava, de moto, da casa da namorada, nunca olhava para trás; só Deus sabe quem ou o quê pode estar sentado na sua garupa); e 47% afirmaram que acreditam em fenômenos mágicos neste mundo. PRA QUE É QUE ESTÁ SERVINDO ESTA ESCOLA?
__ Mas console-se, você que é brasileiro e não desiste nunca, inclusive de ser enganado, pois existe uma espalhafatosa reforma do Ensino Médio sendo encaminhado pelo governo mais desmoralizado e corrupto da história, no sentido de reforçar a aprendizagem científica e tecnológica de nossos alunos! Eu só temo é o contato de uma geração que acredita em lobisomem, magia, e está mergulhada nos medos mais primitivos com complexos e caríssimos equipamentos industriais e científicos do século XXI. Lobisomens, vampiros, mulas sem cabeça e almas penadas vagando em laboratórios e plantas industriais. E nós que os imaginávamos apenas no Congresso Nacional...
__ Brincadeiras à parte; pois isso é muito, muito sério, e tenho certeza que se se os professores repetirem essa enquete em outras escolas não encontrarão índices muito diferentes, que comporão, a meu ver, a melhor imagem da terra arrasada em que se tornou a educação brasileira; e tentando fazer uma precária analogia com outros momentos da história não encontro nada mais adequado do que o momento que se seguiu à queda do Império Romano, onde um magnífico arcabouço cultural, científico e tecnológico foi substituído gradualmente pelo pensamento mágico-empírico dos povos germânicos, tecnologicamente mais atrasados, e que deve ter se estabilizado lá por volta do século X, permitindo uma retomada da cultura greco-romana nos séculos seguintes, principalmente na Renascença.
__ Bem vindos, amigos ao ano mil, uma realidade patrocinada pelas Secretarias e Ministério da Educação.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b3/Breaking_Wheel.jpg
By Unknown - The execution of Peter Stuube. From a contemporary poster printed in Augsburg, Germany (1589). Staats- Stadtbibliothek, Augsburg. [1], Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=810311

De frente para o futuro! Execução de Peter Stumpp, sua filha e amante, em Colonia, Alemanha, em 31 de outubro de 1589, acusados por uso de magia, além de ele ser um "lobisomem".