quinta-feira, 7 de setembro de 2017

OPERAÇÃO LOBISOMEM 2

Prof Eduardo Simões

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__ Num dia desses tive uma visão: o governador Geraldo Alckmin apareceu num noticioso televisivo a dizer que em São Paulo não haveria aquela patuscada de a PM investigar a própria PM; muito bem, mas Alckmin está ficando cada vez mais impassível, mais fleumático, como se estivesse treinando, e muito, para isso!
__ Só a boca se movia! Não percebi nem se piscava. Parecia um objeto falante! Com essa postura tão fria, tão tecnocrática, ele não vence eleição fora de São Paulo. Alckmin se desumaniza, ao contrário do que faz o esperto Lula, e por isso ele erra até quando acerta. Mas já imaginaram o que acontece quando ele erra pra valer?
__ Estou saindo da sala dos professores de minha escola, quando vejo uma revoada de crianças, meninas, vindas do prédio da escola da prefeitura, em frente, com grande alvoroço e aqueles gritinhos típicos, pelo pátio da escola. Ralhei com elas, fingindo-me sério: “Que folia é essa!”. Uma meninota, de uns sete/oito anos, com os olhos arregalados, falou-me: “o cesto do lixo (no banheiro) se mexeu!” “Como assim, se mexeu? Sozinho?” “Foi professor, ele se mexeu sozinho!” Eu pensava que a gritaria era brincadeira, mas era pânico; mas não me dei por vencido: “Isso não existe não!” “Existe sim professor, nessa escola tem demônios, eu vi!” percebi que ela falava do “dito cujo” e não das crianças “encapetadas” que tradicionalmente habitam as escolas no nosso horário de trabalho. “Que é isso, aqui não tem demônios, eu nunca vi coisa nenhuma, que história é essa?” “Tem sim, professor, tem uma amiga minha, a fulana, que viu uma mulher lá na quadra” – “quadra”, é o nome que damos a um areal na parte de trás de umas salas, comumente usado para disputas esportivas; e como as crianças só estão na escola durante o dia, pode-se dizer que as nossas assombrações são bastante audaciosas: aparecem em lugares bem públicos, em plena luz do dia, ao contrário da “Loura do Instituto”, que só aparecia à noite, nos banheiros dessa prestigiosa escola! Ela ainda se virou para duas amiguinhas, que estavam ali, e perguntou: “Não é verdade?”. Uma concordou meio em dúvidas, mas a outra discordou dizendo: “Eu nunca vi”, sem muita convicção.
__ “A coisa só faz piorar, pensei eu, e se não existe Chapolin Colorado, quem virá salvar a educação paulista dessa hecatombe?”
__ A resposta veio por meio das inúmeras assombrações digitais, que vivem a desassossegar a vida dos professores paulistas: em comunicado recente da Secretaria de Educação, com a benção do ilustre jurista José Renato Nalini, o nosso “secretário”, lembram-se? Alguém que quando deixou a escola de educação básica, ela começava a ser regida pela lei 5692/71 – ainda “contaminada” pelas disposições da Constituição de 1934! Mas com um discurso que agrada a Alckmin: “Quanto menos estado melhor!” (lei http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/a-sociedade-orfa) – nós ficamos sabendo, por meio de um belo gráfico, que teremos, a cada dois meses, que preparar um plano de ensino, um plano de intervenção e um plano de “sei lá o quê”, todos os três minuciosos e detalhados, dizendo exatamente qual a habilidade que a gente vai abordar, entre inumeráveis outras a considerar..... por turma! 
__ Como eu tenho 13 turmas, terei que fazer a cada bimestre 39 planos, e em um ano 196, para aplicar de maneira diferenciada em uns 150 alunos (para minha viabilidade mental, minhas escolas são de roça e minhas turmas são pequenas, mas já imaginaram quem pega turmas com 30-40 alunos em média!), o que dará algo em torno de 31.164 combinações diferentes para eu conferir, e dar conta, afinal eles querem que a gente justifique porque tal aluno não alcançou tal habilidade, isso sem falar das crianças “especiais”, que tem uma abordagem à parte, da qual eu não tenho a menor ideia de como fazer, e das habilidades que eu nem sei ao certo como traduzir! Vejam essa de português: “H04 - Identificar o sentido restrito a determinada área de conhecimento (técnica, tecnológica ou científica) de vocábulo ou expressão utilizados em um segmento de texto, selecionando aquele que pode substituí-lo por sinonímia no contexto em que se insere”. A solução, para os burocratas é fácil, mandar a habilidade seguida de uma série de explicações e exemplos; mas já imaginaram ter que fazer isso a cada habilidade, inclusive as que não são de sua área e que, portanto, você não está acostumado a usar! E são mais de uma centena delas, se você trabalha nos vários níveis da Educação Fundamental!
__ Só consigo imaginar duas alternativas para fazer um trabalho sério quanto a isso: o professor passar a carregar, além de tudo que ele já carrega, aqueles fichários de mesa, recentemente extintos, cheios de cartões-fichários, também extintos, para saber em qual das habilidades, ou desabilidade, se enquadra o pensamento confuso que o aluno está se expressando. Outra alternativa é fazer um colar no pescoço, feito com barbante, pendurando nele esses cartões e mais cartões, contendo as tais habilidades, organizadas do menor para o maior, de sorte a ter sempre ali, à mão, o que a SE e o Senhor secretário querem que ele faça. Talvez com o passar do tempo e o modismo, as velhas tipografias, trazidas de volta ao mundo, não se especializem em fazer cartões com bordas coloridas, uma cor para cada tema, como previsto nessas habilidades?
__ Ao chegar em casa, minha esposa conta-me algo inusitado. Uma criança do bairro fora levada ao hospital por causa de uma mordida de cachorro, e seu avô, homem da classe média local, tem uma justificativa para o fato: “Eu bem que falei para ele não brincar com cachorro em agosto, que agosto é o mês do cachorro louco”. Enquanto o governo macaqueia, na educação, as soluções falidas dos americanos, falando em colocar o São Paulo e o Brasil no século XXI, acabar com o atraso na educação, etc., nas ruas e nas escolas as pessoas seguem ajuntando lenha para as fogueiras... Só faltam as vítimas; ou será que não?

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