JOÃO
DORIA E OS MOINHOS DA CRACOLÂNDIA
Prof
Eduardo Simões
http://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/67/2017/02/03/3fev2017---vista-aerea-da-cracolandia-no-centro-de-sao-paulo-agosto-de-2016-1486159443335_956x500.jpg
uol.com.br
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Não deixa de ser tocante, o voluntarismo perceptível nas ações do atual
prefeito de São Paulo em sua luta contra a persistente cracolândia, instalada
nas ruas centrais de sua cidade, que tem resistido, impoluta, a todas as
tentativas de extinção, por mais nobres que sejam as intenções ou rude a
vontade de quem a afronta. De fato, para a solução desse desafio não basta apenas
a boa intenção; como diz o aforismo popular, “de boas intenções o inferno está
cheio”, do mesmo modo que a vontade, que ignora as circunstâncias que
determinam a realidade a ser modificada, está fadada ao fracasso.
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Pelo que podemos deduzir até agora – as nossas autoridades, e isso é histórico,
não primam em esmiuçar os móveis de suas ações; talvez achem que perdem a
“autoridade” quando dão muitas satisfações àqueles que representam (!) – o senhor
prefeito parece ser movido pelo método da “bala de prata”: eliminar o problema
de uma só vez com um golpe vigoroso, como quando se reduz um membro fraturado
de uma pessoa, que é certamente derivado da mentalidade behaviorista do grupo
político que lhe dá sustentação.
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Numa intervenção social de natureza behaviorista não importam as razões ocultas
sob a etiqueta de “afetividade”, é-lhe indiferente a forma como o “problema” é
abordado, se na “marra” ou no carinho, o que interessa é o resultado, da mesma
forma como pouco importa a história do organismo, a criatura ou o ser humano
sobre o qual recairá a intervenção do agente, visto como que perfeitamente
isolado e afetivamente neutro em relação a este; separa-os os hábitos, o
comportamento. Em outras palavras: não importa as causas que levaram os
viciados àquele estilo de vida, aparentemente tão miserável, o que importa é
acabar, da maneira mais mecânica possível, com tal estilo de vida – talvez passe
pelo gestor a mesma coisa que passava na cabeça do líder comunista Luís Carlos
Prestes, quando, numa entrevista, lhe perguntaram sobre o internamento compulsório
de opositores em manicômios, na Rússia, como o cientista Andrei Sakharov, ao
que Prestes respondeu: “quem não gosta da União Soviética só pode estar doido!”
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Para quem olha, sem preconceito e sem abrir mão de sua afetividade original,
uma “falha” estrutural da espécie humana, quiçá escrita em seu código genético,
não pode deixar de se abismar com o estado de degradação em que caem aquelas
pessoas, visível em toda aquela sujeira e promiscuidade confusa que rondam as
cracolândias, assim como não dá para evitar a sensação de que estamos diante de
um grande desafio e um grande mistério; como pode um ser humano se acomodar a
isso? O que leva uma pessoa a ficar nesse estado? O que se pode fazer? Seria
absurdo alguém imaginar que eles fazem isso só para “provocar” as pessoas de “bem”
ou que as cracolândias existem apenas por causa do tráfico de entorpecentes,
que, decerto preocupa, mas há causas mais profundas, aparentemente ignoradas, a
levar os gestores a dedicarem-se apenas em intervir nas consequências: as
cracolândias em si ou o combate aos traficantes, sem resultados consistentes –
jornais já denunciam que viciados estão voltando para a área da cracolândia,
desocupada á força pela PM e Guarda Municipal, em maio, numa ação
cinematográfica... As chances da iniciativa de Doria na cracolândia dar certo
são quase nulas; mas para não ficar apenas na crítica deixo algumas sugestões
de como abordar essa questão:
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http://veja.abril.com.br
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A primeira coisa a fazer é respeitar os pertences dos viciados, pois neles
existe uma memória carregada de afetividade. Um plástico, uma caixa de papelão,
aquela veste ou cobertor velho, sujo e rasgado, já abrigou alguém ou um animal
que ele já amou ou com ele compartiu a solidão das ruas, etc. Um plástico,
precariamente preso a um muro, é, para essa gente, como uma casa, um lar ou um
abrigo para nós, e da mesma forma que um agente público não pode invadir uma
casa sem uma ordem judicial, ninguém deveria ter o direito de tomar e dar fim
às coisas dessa gente sem. Os pertences dessa gente não são apenas “objetos
velhos” que o gestor público troca por “novos”, achando que fez uma ação digna
de um bom escoteiro, mas antes memórias que precisam ser respeitadas, enquanto
se propõe a possibilidade de novas memórias, daqui por diante, em novos e
limpos cobertores fornecidos pela sociedade, por meio dos gestores e seus
agentes que a representam.
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Mas isso toma tempo e tem custo mais elevado do que simplesmente pegar essas
coisas e substituí-las, à força, por novos objetos de igual serventia. O PSDB
precisa definir quando vai começar a gerir gente ou se continua apenas com a
gestão de patrimônio público material; e a sociedade paulista também precisa se
decidir e deixar bem claro a sua opção a esse respeito, para que seus membros,
nas ruas, comecem a agir e a se envolver para garantir a melhoria da qualidade
das relações humanas no espaço público, ao invés de fazer o que é regra atualmente:
segue adiante, fingindo não ver o que está acontecendo.
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Segundo, é preciso entender as cracolândias como o fruto final, maduro, de uma
série de mazelas sociais, com um largo histórico na nossa sociedade, e para
isso basta considerar a origem das pessoas que estão lá que, pelo pouco que sabemos,
por meio da grande imprensa, são majoritariamente pobres – convenhamos que fora
dos momentos de grande impacto, como mais de mil policiais cercando e
dispersando os viciados, além de um ou outro episodio da crônica policial, como
o assassinato do segurança que foi resgatar uma jovem, quase nada se fala sobre
essa microssociedade e sua dinâmica interna. Só nos interessamos pelos pobres
quando suas inciativas ofendem o Código Penal, criado para regular os conflitos
da classe média e alta do país.
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Mas a gente das cracolândias não é só pobre, em sua maioria, é também jovem, muitos
menores de idade, incapazes de discernir corretamente toda extensão de sua
terrível escolha: ir morar ali. Será que havia, para eles, alternativa? Aqui
nos defrontamos com um estorvo histórico, o pior deles, numa sociedade de
matriz escravocrata: o que fazer com as crianças, em especial as nascidas dos
escravos, que também eram necessárias para aumentar o “plantel”, e reduzir as
despesas e os riscos com a compra de novos escravos. Havia aí uma “opção de
investimento” difícil: cuidar bem do menino, até que ele se tornasse um jovem
forte e fosse vendido por um bom preço, correndo o risco de nesse meio tempo
ele adoecer gravemente, se acidentar, morrer ou fugir, ou explorá-lo, desde a
mais tenra idade para reduzir as “despesas” de manter uma criança, que não
produz e só consome. Os resíduos dessa fase histórica, presentes até hoje nas
famílias de vastas regiões do Brasil, apontam para a segunda alternativa. Nos
últimos anos do século XX, as leis se multiplicaram e se esmiuçaram numa
tentativa de libertar crianças de trabalhos totalmente inadequados, insalubres,
como pedreiras e carvoarias, nos sertões, para não falar do turismo sexual com
adolescentes quase crianças, nas cidades litorâneas, e levá-las para a escola, e
muitos ainda há, herdeiros do passado colonial, que consideram a educação de
seus filhos não um investimento para o futuro, mas uma despesa excessiva no
presente.
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Aqui topamos com outro problema estrutural grave: nossa incapacidade histórica
de criar e preservar uma cultura de valorização da educação em todos os seus
aspectos: familiares, escolares e sociais. A família tradicional está muito
desestruturada, e a criança continua sendo tratada como uma espécie “patrimônio
material” da família, por pais imaturos. Há uma explosão da gravidez precoce,
para a qual o estado toma medidas paliativas à conta-gotas, quando não ignora.
As promessas de cuidados e educação para a infância e a adolescência, os dados
estatísticos o comprovam, estão entre as menos cumpridas por nosso políticos.
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Eles, os políticos, por sua vez, não perderam a oportunidade para dar um mau
exemplo, postergando ao máximo a criação de um sistema educacional nacional, a
primeira lei a esse respeito data de 1961, enquanto a maioria dos avanços
educacionais ficam só em promessas ou no escamoteamento de dados estatísticos,
grosseiramente desmoralizados toda vez que o país participa de alguma bateria
de testes internacional. A questão educacional é discutida apenas sob o viés
quantitativo, que pode ser apresentado como dado “concreto” durante as disputas
eleitorais, enquanto o aspecto qualitativo fica relegado ao último plano,
fazendo com que a principal causa do abandono da escola por jovens seja o
desinteresse pelo que acontece nela. Uma escola que não forma para a vida real
não encanta o jovem. A criação dessa escola, hoje, é-nos um mistério, porque nós
nunca desenvolvemos e difundimos na nação uma teoria educacional científica que
fosse aceita pela maioria e a ensinasse a lidar com a formação de crianças,
simplesmente porque isso nunca foi prioridade para a nossa sociedade – nós somos
o único país do mundo civilizado a massacrar toda uma elite de grandes educadores,
mandando a prendendo a uns (Lauro de Oliveira Lima), torturando a outros (Maria
Nilde Castellani), exilando a alguns (Darcy Ribeiro e Paulo Freire),
assassinando a outros (Anísio Teixeira), quando no mundo inteiro acontecia uma
incrível revolução educacional. Um jovem
aspirante ao trabalho, sem uma formação adequada, não é um alvo fácil da
cracolândias?
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E o espaço público? Outra formidável fonte de aprendizagem, hoje fechado às
crianças e jovens das grandes cidades, por questão de segurança, uma vez que o
Estado Brasileiro prima pela desorganização e ausência de rumo no trato dessa
questão. As balas perdidas, os sequestros, os latrocínios marcam a marcha do
fracasso da segurança pública no país. A ida a um simples baile juvenil, uma
das experiências mais prazerosas dessa fase, tem sido, para muitos jovens, em
especial os mais pobres, uma sentença de
morte. Jovens de classe média são isolados e impedidos, por seus país, da
convivência nos espaços públicos das grandes cidades – ficou famosa uma matéria,
num programa de variedades da TV, que mostrava jovens de classe média-alta do
Rio de Janeiro, que conheciam razoavelmente bem as ruas de Miami, nos Estados
Unidos, mas nunca tinham ido, por medo ou conforto, ao centro de sua própria
cidade. Eles ficaram pasmos com o que viram. Ao jovem de classe baixa fica a
ameaça de morte prematura, por bala perdida, em casa ou na escola, ser assaltado
ou brutalizado por outros jovens de sua classe social, sem falar do cerco de
traficantes, dentro da própria escola, por jovens criminosos, para lá enviados
por autoridades do Poder Judiciário, antes de estarem recuperados. Se um jovem
aluno promissor dessa escola cair na “cantada” ou na pressão desses
minitraficantes ou “aviõezinhos”, e acabar, por isso, morando numa cracolândia,
de quem é a responsabilidade?
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Por fim, ninguém decide de repente, num belo dia, largar tudo e ir morar na
cracolândia mais próxima; antes uma série de acontecimentos fortuitos ou
estruturais, negativos, ou não – grandes vitórias pessoais, mal administradas, podem
causar estragos num psiquismo “fraco” – arrastaram essas pessoas para as ruas.
Cada ser humano, diferente dos ratos que os behavioristas criam em
laboratórios, reage de uma maneira diferente aos sucessos e aos fracassos da
vida, alguns passíveis de serem minorados e até evitados pelas autoridades
públicas, outros não. As autoridades podem gerar mais estabilidade social dando
bom exemplo de comportamento ético, roubando menos, estimulando com medidas
corretas o sistema econômico para que haja mais e melhores empregos, etc., mas
não podem evitar o colapso de alguém como resposta a uma perda pessoal
irreparável, mas decerto que a parte do governo precisa ser feita, e muito bem
feita, para que a vida na sociedade não viciada pareça mais interessante e
desafiadora, e não a “droga” que as vezes parece ser, até para quem não é
viciado... Uma coisa é certa: os moradores desses ajuntamentos já estavam gravemente alterados antes de irem para as ruas; a cracolândia apenas os acolheu, já que ninguém mais os acolhe.
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Feito essa avaliação inicial, podemos passar agora a algumas sugestões para a
solução desse problema.
Nem só Quixote nem só
Sancho Pança
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https://cascosecaos.wordpress.com
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A gestão pública, assim como a vida de um indivíduo, terá mais possibilidade de
sucesso se souber encontrar a sintonia fina entre o idealismo do gestor e a
análise fria do técnico, sobre as características do meio que se quer
transformar, para decidir sobre a melhor intervenção. O problema dos nossos
gestores quanto a cracolândia é que eles até agora só viram um dos polos da
questão, ignorando o outro. A ação de Doria, por exemplo, parece muito com a
arremetida direta de Quixote contra os moinhos de vento, a natureza realidade
não muda pela desmedido da ação tomada, enquanto a de Haddad, no outro extremo,
assemelhou-se à de Sancho Pança: “os moinhos estão lá, o jeito é conviver com
eles”, num movimento de acomodação não transformadora.
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A primeira consciência que o administrador deve ter quanto a esse problema é
que, conforme descrevemos acima, ele tem raízes vastas, profundas e antigas, em
nossa sociedade, sendo, portanto, necessária uma ação conjunta de gestores dos
três níveis (municipal, estadual e federal). O fim das causas das cracolândias
deve se tornar um grande objetivo nacional, e para tanto urge que esses
gestores tomem uma série de medidas, cada um no seu nível, que pressionem as
raízes sociais do problema, a saber: uma ação policial mais planejada, profunda
e de longo prazo contra o tráfico de entorpecentes; ações que protejam as
famílias, em especial aquelas que estão numa situação de vulnerabilidade; um
combate mais consequente contra a gravidez precoce, transformando-a numa ação
de direito público, e estender também aos genitores dos pais os cuidados para
com o recém-nascido; incentivar uma cultura nacional de solidariedade e apoio
mútuo entre vizinhos e comunidades; melhorar a política atual de segurança
pública; cuidar, por meio de uma reforma que vise a qualidade do ensino, para que
as escolas se transformem em polos de atração da juventude, como já acontece em
alguns países, como a Finlândia, e já aconteceu em São Paulo com os ginásios
vocacionais; etc. Tomadas essas medidas, só resta aos gestores torcer para que
os gestores seguintes mantenham ou aprofundem as medias tomadas, que não darão
resultados do dia para a noite, ou apenas em uma ou duas gestões, pois propõem
uma mudança básica na sociedade, em muitos de seus alicerces. Décadas talvez se
passem até as cracolândias se transformarem numa longínqua reminiscência do
tempo em que os brasileiros só queriam enxergar o seu próprio umbigo
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Porém, muitos são os alvos em várias direções distintas, por onde começar? A
qual desses problemas, ou grupo de problemas, deve-se atacar primeiro? Simples:
faça-se uma ampla pesquisa entre os moradores da cracolândia, e busque-se saber
qual é o fator que predomina na busca deles por esse tipo de vida, e analise-se
com cautela o que o estado pode fazer para reduzir ou eliminar esse ponto fraco
da estrutura social – numa linguagem de gestores, isolar o problema e colocar
foco no item mais frágil do sistema, e que está impedindo que ele alcance o seu
objetivo. É preciso levar a sério o que essa gente pensa, pois o que eles
passaram e passam, ainda tão jovens, levaria muita gente adulta, que os julga
com tanta pressa e desprezo, direto para o manicômio.
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De imediato o estado precisa deixar bem claro que se interessa por essa gente
pelo simples fato de eles serem humanos, seres com um potencial infinito de
realização e atos bons pela comunidade em que vivem – considere-se o caso do
morador de rua, na Inglaterra, que salvou várias pessoas num incêndio recente –
merecedores, portanto de toda simpatia e torcida, da parte de todos, a fim de
que consigam superar sua difícil situação, se for o caso.
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Em segundo lugar o Estado, e mais ainda o governo, tem o dever, senão a
obrigação, de mostrar para com eles toda a simpatia e interesse genuínos, pelo
simples fatos deles serem brasileiros, e como tais portadores de direitos
inarredáveis, em vista dessa condição, que nem deveriam ser lembrados, uma vez
que antes desses direitos se impõe o imperativo moral de “amarmo-nos uns aos
outros”.
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Em terceiro lugar o Estado deve lutar com calma e resolução pela conquista e
manutenção de cada espaço dentro das cracolândias, talvez por meio de um grupo
de policiais especializados, capazes de enfrentar com força e autoridade
qualquer iniciativa violenta dos traficantes, que se aproveitam dessa gente,
evitando ao máximo, é claro, conflitos ou troca de tiros dentro das
cracolândias, mas também serenos e capazes de ajudar a quem quer que esteja
passando mal ou precisando de auxílio médico urgente – outra alternativa seria
esses policias circularem dentro da cracolândia acompanhando, para proteger e
auxiliar, a agentes de saúde. O objetivo dessa ação seria modificar a imagem da
polícia na cabeça dessa gente, associada, não sem razão, a uma violência
unilateral, de opressão classista (“só me agridem porque sou pobre!”), e por
meio dela ganhar a confiança de muitos na cracolândia, que começarão a procurar
os policiais para pedir orientação e ajuda para um tratamento. E assim,
ganhando corações ementes, começaremos a ver um processo inverso, de
diminuição, das cracolândias no Brasil.
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E os traficantes, o que fazer com eles nas cracolândias? A primeira coisa é
perceber que o que mais interessa a esses criminosos é a discrição, porque eles
têm consciência que o que fazem é muito errado, logo é preciso que fique bem
claro para eles e para todos que, toda vez que surgir uma cracolândia, em
qualquer lugar do país, imediatamente serão instaladas câmeras de
monitoramento, e equipes prontas para identificar e prender os bandidos na
primeira oportunidade que houver. Transformar enfim o supermercado da droga
numa atividade de risco para o tráfico, pela exposição dos traficantes.
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Segundo, qualquer ação violenta deles a uma iniciativa da polícia deve ser
respondida com uma chegada em massa da polícia, não para bater ou constranger
os moradores do lugar, mas antes, de forma cirúrgica, com o intuito de
investigar e prender a bandidos específicos, de sorte a lhes convencer que o
pior para eles é crescer para cima das autoridades, tirando partido daquilo que
acima de tudo pretende o tráfico: ganhar dinheiro, se possível negociando
pacificamente a sua droga, como se fosse uma mercadoria qualquer – QUE NÃO É!
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Por fim é necessário, e o Estado Brasileiro, nas três esferas de poder, também
pode contribuir muito com isso, principalmente por meio do bom exemplo
ético-moral de políticos e autoridades, resgatar ou criar valores e hábitos
elevados de convivência e sociabilidade, adaptados à nossa realidade nacional,
republicana e democrática, que abarquem, protejam, orientem e movam o
indivíduo, as famílias, as comunidades e a nação, de sorte que não seja mais
possível esperar tanto tempo antes de agir, diante do crescimento das
cracolândias, como se a sorte dessa gente não nos interessasse.
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As cracolândias são apenas um sintoma; sintoma de uma indiferença e de uma
crueldade antiga, endêmica, selvagem, presente no nosso projeto primordial de
nação, e assim como nós sabemos de sua origem, espero um dia saibamos de sua
cura e a assumamos resolutos, ao invés de continuarmos a nos espatifar a cada
investida contra esses moinhos de ventos.
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Espero viver para ver isso...