O
PRECARIADO E A DESINVENÇÃO DO MUNDO
Prof
Eduardo Simões
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Tive oportunidade em outro artigo, A
mulher e a reinvenção do mundo, de ressaltar a importância do lar e tudo
aquilo que ele representa como aconchego, segurança, proximidade, solidariedade
familiar, e outras virtudes análogas, para o formidável desenvolvimento da humanidade
ao fim da Pré-história, e nos períodos seguintes, em que pese as grandes
dificuldades que o lar encontra em virtude de caos e conflitos criados nos
espaços públicos, em geral por homens, como guerras, concorrências desleais,
políticas econômicas desastrosas, etc.
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Portanto, mudanças e movimentos ocorridos na área do espaço público, ainda que
não tão graves como uma guerra, podem sim ameaçar a estabilidade de lares e,
com isso da própria sociedade, à medida que compromete as fontes de sustento
próprias de uma sociedade industrializada ou cria situações de estresse para o
desenvolvimento tranquilo da família; no momento atual vemos isso acontecendo
nas diversas formas de precarização do trabalho, à guisa de estimular o
empreendedorismo, presentes na atual reforma trabalhista do governo Temer, a
partir da cartilha “trabalhista” criada pelo PSDB de São Paulo – a aprovação
dessa reforma mostra bem o tipo de entranhas desse governo: num momento aprova
a reforma trabalhista e no outro aumenta os impostos; a mensagem é clara: o
governo continuará saqueando as empresas, por meio de impostos, enquanto os
empresários ficam liberados para compensar as perdas, esfolando um pouco mais a
sua mão-de-obra. Em linhas gerais, é interessante notar como, a esse respeito,
a história se repete.
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No início do século XIX, disseminou-se nos meios mais cultos e entre o
empresariado a tese de um pesquisador inglês, Thomas Robert Malthus – esmiuçada
em seu livro Ensaio sobre o princípio da
população, de 1798 – de que população cresceria sempre a uma taxa superior à
da produção de alimentos, de tal forma que num futuro não muito distante, o
descompasso entre a oferta de alimentos e a sobredemanda da população acabaria
por arrastar as sociedades ao caos. Associada a essa tese, apareceu, anos mais
tarde, uma conclusão um tanto forçada da teoria evolutiva de Charles Darwin,
conhecida como “’darwinismo social”, que tentava apresentar as pessoas pobres,
em geral a massa trabalhadora no campo e nas cidades, como os indivíduos “menos
aptos” da espécie, e, portanto, o “ponto fraco” do edifício social; logo é
preciso evitar que os pobres se multipliquem, sua pobreza denúncia sua
“inaptidão natural”, ou como um aforismo muito popular na época: “a melhor
coisa que você pode fazer por um pobre é não ser um deles”.
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Na esteira dessas hipóteses espalhou-se, no meio empresarial, a prática de
pagar os menores salários possíveis aos seus empregados, apenas aquilo que lhes
permitisse minimamente sobreviver, seja por um lado, para evitar a explosão
demográfica e o caos final da sociedade humana, previsto pelos malthusianos,
seja para impedir que a sociedade nacional se enfraquecesse, perante outras
nações, num momento de forte afirmação nacional e concorrência comercial em
escala planetária, pela multiplicação dos “menos aptos”, justificado pelos
argumentos de um dos economistas liberais mais brilhantes, David Ricardo, na
sua chamada “lei férrea dos salários” – as colônias, nessa época, serviram
muito também às metrópoles como destino final para esses “indesejáveis”, sem
falar em duas guerras mundiais, que lhes reduziram bastante o seu número.
Acrescentem-se às consequências dessa política a explosão das margens de lucro
do empresariado e uma imensa concentração de riquezas, graças à exploração
brutal da mão-de-obra! Hoje nós sabemos que tudo isso foi, e é, um engano: a
explosão demográfica foi contida, a produção de alimentos multiplicada pelo
desenvolvimento tecnológico e as teses racistas do passado não podem estar mais
desmoralizadas. Mas quantos não pagaram, e pagaram muito caro, por esse erro?
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Hoje, outra nova e brutal mitologia ameaça o futuro de muitos; daqueles que não
vão herdar fortunas ou negócios milionários de seus pais, que precisarão
trabalhar para se manter, uma vez que as novas formas de trabalho, a pretexto
de liberdade e realização pessoal estão precarizando as relações trabalhistas,
cortando ou enfraquecendo os vínculos dos empregados com sua empresa, gerando
um ambiente de insegurança econômica e jurídica estrutural na sociedade. Usando
a metáfora da Pré-história, e como se os caçadores induzissem o urso a entrar
na caverna, onde estão mulheres, crianças e velhos, para, lá dentro, tentar abatê-lo.
Quais são as chances de isso dar certo?
“Não leve problemas do
trabalho para dentro de casa”
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Diziam os antigos, para manter o caráter do lar como lugar de descanso e
reposição de energias do guerreiro, nos
dias de hoje coisa é vista de modo inverso: “não traga problemas pessoais para
dentro da empresa”, pois o lar e a família perderam importância diante das
possibilidades de lucro, ganhos e oportunidades a cada minuto que passa. Nada
pode se perder, enquanto os antigos faziam seus cálculos deixando de lado a “parte
das saúvas”, e por isso sofriam menos; mas não é só a tranquilidade do lar que
está ameaçada pela “revolução” do trabalho em curso.
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Por trás dessa nova “onda” está uma concepção de ser humano nascida nos
laboratórios das universidades e centros de pesquisas, no início do século
passado, que acirraram e sofisticaram a matriz psicológica do empirismo,
passando pelo comportamentalismo até chegar ao behaviorismo, em que o móvel das
ações humanas é colocado ao mesmo nível do de animais “irracionais”, cujo
comportamento, estudado amiúde em diversas situações, serve como parâmetro para
explicar o comportamento humano. Como no darwinismo social, a vida “bruta” é
usada para definir e orientar o comportamento de animais pensantes e
simbólicos, da complexidade de um ser humano. Para essa gente as nossas
necessidades são apenas aparentemente diferentes da dos outros animais, e a nossa
complexa afetividade algo perfeitamente
descartado.
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Por essa via transitam as últimas reformas de ensino feitas no Brasil, em São
Paulo de uma maneira muito particular, a qual foi assumida pelo governo Temer, seja
por crença sincera seja por necessidade política gerada pelo excesso de
insinceridades, reforma essa baseada na presença compulsiva e exaustiva do
aluno em sala de aula, durante dois expedientes, com salas absurdamente lotadas,
onde a aprendizagem, à semelhança da hipertrofia muscular de um mamífero
qualquer, é provocada pelo acúmulo de conteúdos absorvidos acriticamente, permeada
com atividades físicas e culturais diversas, como que “molduras”,
desconsiderando-se grosseiramente o caráter formativo, espiritual, das artes
(vistas apenas como uma mercadoria, donde os manuais enfadonhamente
descritivos), do esporte (visto como uma forma de “manter a saúde” e reduzir as
despesas com a saúde pública, decorrente do sedentarismo que afeta os lucros
das empresas e aumenta custos da saúde pública e dos planos de saúde privados),
e da socialização, onde entram aspectos fundamentais da afetividade. Quem quer
saber de dinâmica de grupos?
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Por trás disso há um discurso bem articulado, simétrico ao do início do século
XIX, embora com o mesmo objetivo, que é o da necessidade de criar um “capitalismo
para todos” ou “desenvolver o empreendedorismo”; ou seja, forçar o ser humano a
se adaptar às novas tecnologias, como no século XIX se lhe forçou a se adaptar ao
maquinismo nascente, para gerar mais renda a quem já as tem sobrando! A lógica
é mais ou menos a seguinte: “empreendedor é aquele que topa e gosta de correr
risco; ora, se o patrão corre riscos, porque o empregado não pode correr também?”
Apresenta-se ainda a suposta vantagem de o trabalhador, um dia, tornar-se um empreendedor,
como o seu atual patrão, agora transformado em um sócio.
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Numa perspectiva behaviorista, nada há com que se preocupar. Todos os ratos são
iguais e reagem da mesma forma aos mesmos estímulos, e o mesmo acontece com os
homens, logo estes podem ser treinados para se tornar empreendedores, em que
pese as definições conflitantes desse construto social, assim como as formas
como ele se manifesta na sociedade o ser bem-sucedido. Em muitas comunidades de
periferias, por exemplo, o modelo de sucesso que atrai tanto rapazes como
moças, por motivos diversos, são gente que as sociedades centrais, ou de nível
sociocultural mais alto têm por “marginal”, sobre isso voltaremos a tratar mais
à frente, que tal “sociedade” vai acontecer entre dois polos com poder de
barganha desigual, onde um dos sócios tem gordura financeira para aguentar a
espera por um sócio mais adequado, enquanto o outro, o ex-trabalhador, precisa
o quanto antes iniciar-se numa atividade econômica que lhe possibilite garantir
alimento, vestuário e moradia. Qual é a diferença dessa política daquela do
início do século XX, quando os operários eram obrigados a trabalhar até 12-14
horas por dia, por patrões que diziam: “só trabalha na minha fábrica quem quer”!
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Se a questão é ser um empreendedor, e isso vai se tornar quase obrigatório com
a nova lei, surge uma questão que o Estado precisa responder e por a solução em
prática urgentemente: como é que se forma, se é que existe uma fórmula
infalível, um empreendedor? As escolas, em especial as públicas, estão fazendo
movimentos nessa direção? O currículo de nossas escolas estimula a
criatividade, virtude básica de todo empreendedor, ou busca respostas
estereotipadas por meio de uma infinidade de testes de múltiplas escolhas e
avaliações quantitativas, modelo PISA, mais adequadas a “burros de carga”? A
metodologia usada na transmissão dos conteúdos em sala de aula favorece à
problematização da matéria? Como ser empreendedor sem saber resolver problemas ou
enxergá-los de maneira inovadora, justo o que não há em sala de aula? A
quantidade de alunos em sala de aula favorece à formação de pequenos grupos
homogêneos, semelhantes àqueles que assessoram
os empreendedores ou mais parecem latas de sardinha lotadas de alunos, com
níveis de formação, e informação, completamente díspares? A organização das
carteiras favorece à comunicação entre todos, vital no processo de
empreendedorismo, ou segue as tradicionais fileiras de consumidores passivos
engolindo acriticamente o discurso dos professor? Como fazer para que um aluno
tímido, mas criativo, se sinta encorajado, em meio à multidão anárquica de seus
colegas a se manifestar e enriquecer o grupo com seus talentos, como acontece
num ambiente empreendedor? Que falar da motivação, elemento chave de todo
empreendedor, fortemente ligada ao desenvolvimento da afetividade; o Estado se
propõe a COMEÇAR a lidar com essa questão? Etc. etc. etc.
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Mesmo supondo, behavioristicamente, que a educação é um sistema linear, e que
os alunos se transformarão, como que magicamente, em empreendedores, se os
professores os forçaram a ler os manuais de matemática financeira que inundam
as escolas e ouvirem eventualmente palestras e projetos sobe o assunto, dadas
por estranhos ao ambiente escolar, é claro, uma vez que os professores estão
sobrecarregados de relatórios e planejamentos, sem falar da atenção a levas de
alunos especiais, para os quais não receberam qualquer formação digna de nota,
e os alunos com ligação com o crime organizado, em geral comércio de entorpecentes.
É razoável desconsiderar a opção final do aluno que, a ser empreendedor, prefere
sonhar com uma vida tranquila e pacata de trabalhador numa empresa? O que um
patrão perde com a fidelidade e o empenho de seu empregado?
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Bem, se o empreendedorismo for objetivo e não opção, falta acertar uma coisa
com os principais interessados.
Melhor combinar antes
com os russos
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Nossos políticos, os gestores do Estado, podem, escutando meia dúzia de
intelectuais e empresários, que sempre se protegeram à sombra do Estado, desde
o berço, na ditadura Vargas, até os bombásticos campeões de Luis Inácio Lula da
Silva, decretar, por meio de lei, o fim do emprego estável ou a exaltação do “risco”
para todos, tanto para os que lhe têm vocação, como os que lhe são avesso,
pelos mais diversos motivos, alguns muito pessoais e profundos, que não podem
ser abolidos de uma hora para outra por decreto ou lei votados de afogadilho
por uma assembleia corrupta e desmoralizada aos olhos da nação, sem com isso
querer dizer que tudo na atual reforma trabalhista é negativo, e que o modelo
anterior precisava ser mantido em todos os detalhes. A paralisia leviana e
oportunista da esquerda, sobre a atualização da legislação trabalhista, e a
ganância da direita impediram um debate mais amplo e aprofundado sobre essa
reforma, que agora nos desaba sobre a cabeça, e que vai mexer com a vida de
milhões.
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Ouvir de empresários e nossos políticos afirmarem que essa reforma vai melhorar
a situação dos trabalhadores, que vai gerar mais emprego, a revelia das
condições atuais do trabalho e dos trabalhadores em nossa sociedade, dá-nos
tanta confiança nisso quanto suas juras de que são inocentes dos crimes a eles
imputados, e nos obriga a ficarmos ainda mais atentos ao perigo que representa,
para o Brasil e para o mundo, essa sensação generalizada de uma falta de uma
segurança mínima, cotidiana, que só o trabalho com carteira assinada e direitos
estáveis pode trazer, exceto para aqueles vocacionados para o risco, e que
parece ser um traço comum a muita gente, independente das características ou do
momento econômico da sociedade em que vive.
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Na Inglaterra, um pesquisador universitário, Guy Standing, causou uma certa apreensão
ao lançar o seu livro Precariado: a nova
classe perigosa – no sentido que ela substitui, no ambiente europeu, a vertente
revolucionária do antigo operariado marxista, sempre pronto para por o dedo na
ferida da burguesia – uma vez que essa classe surge justamente do ambiente de
incerteza que cerca a fórmula do “capitalismo popular” ou “empreendedorismo difuso”,
imposto de cima para baixo, criando em jovens de classe média, de excelente
formação acadêmica, a sensação de que estão permanentemente fora do jogo, que nunca
terão um emprego fixo em suas vidas, logo terão que ficar eternamente
disponíveis para trabalhar ora em seu país ora no exterior, obrigado a se
adaptar, de um momento para o outro a costumes e línguas diferentes da sua, se
quiser sobreviver! Ter uma residência fixa? Nem pensar! Formar família? Vai
sonhando! O que está ocorrendo, bem o assinala Standing, não é a proletarização
da classe média, mas a sua lumpemproletarização, a semelhança dos trabalhadores
diaristas, chapas, boais frias e outros, vagando sem identidade ou um projeto
de vida permanente, apenas pela oportunidade de continuar vivendo, jogados de
um lado para o outro – o trabalhador regredirá à mesma condição dos primeiros
caçadores errantes do Paleolítico, sempre a busca de emprego, num mundo onde o trabalho
com carteira será cada vez mais escasso e exaustivo, enquanto a aposentadoria
ocorrerá cada vez mais tarde, em que pese a deterioração da mente e do corpo,
acelerados pelo estresse da busca por emprego e a insegurança onipresente.
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O resultado disso é a grande sedução, já observável em jovens europeus, por
doutrinas e promessas “radicais” ligadas a um passado, que ao menos lhes dá uma
esperança de estabilidade e antigos valores, em geral expressas por políticos populistas,
demagogos, oportunistas, a revelia daqueles que ainda não tomaram consciência
da perigosa transição que nos cerca, visível no crescimento tanto da direita nacionalista,
conservadora, e da esquerda “revolucionária” em vários países da Europa, como a
Frente Nacional e as explosões sociais na França, a vitória do espalhafatoso
Brexit, na Inglaterra, fortes manifestações anti-imigração, a vitória de Donald
Trump na EUA, a situação de quase levante criada na Alemanha por ocasião da
cúpula do G 20 – a esse respeito a mídia noticiou que a polícia alemã vai
recrudescer a vigilância sobre a extrema-esquerda no país, exatamente o que se
fazia há 200 anos atrás, nas primeiras manifestações obreiras na Europa!
Combatem-se os sintomas, ignoram-se as causas.
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Nem todos são empreendedores, não é para qualquer um; ao contrário do que dizem
os defensores desse novo sistema, a via empreendedora é muito difícil, veja-se
pois o depoimento do empresário e escritor Eduardo Moreira, um empreendedor de
sucesso, em um de seus artigos (leia-o completo neste blog): “Mal sabemos que o
fracasso é a regra e o sucesso a exceção... Na verdade, com uma competição
muito maior e barreiras de entrada quase inexistentes [possibilitada pelo
avanço tecnológico e a queda das barreiras comerciais], a maior parte dos
negócios passou a ser mais difícil e não mais fácil de dar certo. Dar certo
será sempre o resultado de errar, errar, errar, até se exaurir todas as
possibilidades que não dão certo e só sobrar a que funciona...” Quantas pessoas
têm esse espírito? O que fazer com as que não têm? Quantos abrigos públicos
serão necessários abrir para estas? Quantos se submeterão passivamente à ideia
de que são fracassados, perdedores, e que não lhes resta nada mais que esperar
o fim de seus dias vivendo da caridade de quem está sendo treinado para não ter
caridade, uma vez que o emocional não interessa? É justo criar um sistema
econômico em prol de uma minoria ou mesmo de uma maioria, apenas?
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Jovens de todas as classes sociais, em especial os das nossas periferias, com
formação precária ou sem vocação para o empreendedorismo, certamente dirão para
si: “tudo bem, me submeterei à pobreza e a humilhação cotidiana para que os
políticos possam continuar se elegendo e ricos empresários se tornem ainda mais
ricos, explorando a mão-de-obra terceirizada, sem qualquer proteção, como eu,
pelo bem da sociedade, que historicamente nos desprezou”. Em dezembro,
aproveite, e espere uma visita de Papai Noel...
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Não podemos esquecer que a lei da sobrevivência, e sobrevivência com dignidade,
sempre se impõe, e para cada não dado a um trabalhador por um empresário, com
base nessa lei, haverá um revolucionário na esquina a lhe destilar o ódio de
classe ou um traficante pronto para recebê-lo de braços abertos, sem qualquer
exigência ou condição prévia, exceto o da fidelidade, que a empresa e o governo
lhe negam, jogando sua autoestima nas alturas, a ponto desfilar airoso, na sua
comunidade, portando uma arma, como um soberbo caçador, à vista todos. Se não passar
de um pequeno um vendedor, ainda assim terá direito à solidariedade de seu
grupo na adversidade, sem falar da tranquilidade de saber que a dura lei do
tráfico vale para todos, ao contrário do que ocorre na sociedade civilizada
onde há foro privilegiado e a diferença entre advogados pode fazer a diferença na
punição. Explique isso para um jovem pobre numa escola!
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Por fim, se tudo der errado, haverá sempre uma cracolândia por perto, assim
como um trabalhador “otário”, de quem se pode roubar algo, ou bens públicos à
mão, para trocar pela ração diária de drogas, já que a de comida decente ficou
inviável. As cracolândias são espaços absolutamente livres e democráticos, expressão
máxima do individualismo amoral burguês, gestado tanto pela necessidade de
sobrevivência dos esquecidos como pela frieza dos esquecedores em nossa mísera
história social.
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Estamos construindo, ou deixando construir, meticulosamente, um inferno para as
futuras gerações. É hora de acordar!
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