UM MUNDO DE INFORMAÇÕES
VELOZES E PESSOAS TRISTES
Eduardo Moreira
[nessa postagem reproduzo um
artigo muito interessante e provocativo do jovem empresário e escritor de
sucesso e meu xará, Eduardo Moreira, copiado do site de exame.abril.com .br, a
quem agradeço muito. Espero que ele também inspire a você que está lendo esse
blog]
http://www.opopular.com.br/polopoly_fs/1.1184641.1479926959!/image/image.jpg_gen/derivatives/landscape_940/image.jpg
http://www.opopular.com.br
Vivemos em
um mundo assustadoramente veloz. As informações nos chegam cada vez mais
rapidamente e em uma quantidade avassaladora. Estima-se que uma pessoa
“conectada” receba atualmente mais informações em um dia do que seus
antepassados recebiam durante toda uma vida. Mas não é só o acesso a informação
que foi democratizado; a produção dela também foi.
Com um
smartphone à mão e uma ideia na cabeça, o mundo passou a ter um contingente de bilhões
de repórteres e jornalistas, a maioria deles sem qualquer compromisso com a
verdade ou com as consequências daquilo que publica. E é esse mundo, em que as
informações e notícias são consumidas com cada vez menos profundidade de
análise, que está deixando as pessoas cada vez mais ansiosas e frustradas.
Há algumas
décadas as pessoas eram capazes de manter sua atenção focada por quase uma
hora, em média, num mesmo assunto antes de perder-se em outros pensamentos. É
por isso que as aulas dos colégios, das faculdades, as palestras e as sessões
de terapia têm essa duração. Com a avalanche de informações e o aumento do
custo de oportunidade de fixar a atenção em uma só coisa – e perder uma
infinidade de outras coisas que acontecem enquanto isso – esse tempo foi
diminuindo. Hoje, estima-se que seja de cerca de 8 segundos apenas. Não é
coincidência que as propagandas do Youtube demorem 7 segundos (em um de seus
modelos mais populares à venda para anunciantes).
Nesse mundo,
chocar ou prometer milagres já nas primeiras linhas de um anúncio ou nos
primeiros segundos de um vídeo parece ter se tornado a estratégia mais
utilizada para fisgar as pessoas. E é por isso que as “fórmulas de lançamento”
que prometem deixar as pessoas ricas em uma semana, os produtos de beleza que
acabam com celulites ou rugas em poucos dias, e os cursos de idiomas que te
fazem fluente em poucas semanas são o hit do momento. Ótimos somente para quem
os vende.
Do outro
lado do balcão estamos nós, os consumidores. Que fazem à risca o que mandam as
fórmulas anunciadas e, contrariando nossas esperanças e expectativas, seguimos
colecionando fracassos atrás de fracassos em nossos negócios, rugas e mais
rugas em nossos rostos, e mal conseguimos pedir um Big Mac sem picles em inglês
após dois meses de curso.
Pior ainda,
somos bombardeados com os raros casos de pessoas que deram certo usando estes
métodos ditos “milagrosos”, veiculados a torto e a direito pelos charlatões de
plantão, e passamos a achar que o problema somos nós (e não essas levianas promessas).
Deprimimos-nos, humilhamos e escondemos do mundo, convictos que somos um erro e
nossas vidas um desastre sem solução.
Mal sabemos
que o fracasso continua sendo a regra e o sucesso, a exceção. Mesmo para os que
seguem à risca as fórmulas milagrosas. A verdade é que estas pessoas não têm
nada de errado além do fato de acreditar que os resultados passaram a acontecer
na mesma velocidade das informações que os prometem. As coisas continuam
demorando para dar certo, muito mais do que 7 segundos.
Na verdade,
com uma competição muito maior e barreiras de entrada quase inexistentes, a
maior parte dos negócios passou a ser mais difícil e não mais fácil de dar
certo. Dar certo será sempre o resultado de errar, errar, errar, até se exaurir
todas as possibilidades que não dão certo e só sobrar a que funciona. Para isso
é preciso resiliência e paciência, características cada vez mais raras nesse
nosso mundo frenético e imediatista.
As flores
seguem nascendo na primavera, o sol ainda se põe uma vez por dia e os bebês
continuam passando nove meses dentro das barrigas de suas mães antes de nascer.
Para dar certo no mundo de hoje, você ainda vai ter que fazer muito e esperar
mais ainda. A não ser que queira enganar os outros vendendo as suas fórmulas
milagrosas (que não funcionaram para você).
[leia,
abaixo, essa matéria publicada no g1.globo.com, a quem agradeço, postada em
2015, complementando o que foi dito acima por Eduardo Moreira]
Olhar o
Facebook dos outros pode nos deixar mais tristes?
Pesquisas
apontam que observar atividades e fotos de conhecidos ou famosos de forma
passiva pode afetar negativamente nosso bem-estar e provocar sentimentos como
inveja.
Paula Adamo Idoeta
Da BBC
Brasil em São Paulo
Amigos
postando fofocas de festas animadas das quais você não participou; conhecidos
registrando em fotos uma viagem para algum destino paradisíaco; celebridades
mostrando seu cotidiano de luxo e agito. Se você passa seu tempo observando,
passivamente, esse tipo de conteúdo no Facebook talvez
já tenha experimentado uma sensação de tristeza.
E não está
sozinho. Alguns estudos têm mostrado como a rede social pode afetar
negativamente nosso bem-estar e provocar sentimentos como inveja.
Uma recente
pesquisa da Universidade de Michigan (EUA) com a Universidade de Leuven
(Bélgica), publicada no Journal of Experimental Psychology: General, analisou
84 estudantes universitários, que foram instruídos a usar o Facebook por dez
minutos dentro de um laboratório e, em seguida, responder um questionário a
respeito de suas emoções.
E os que
usaram o Facebook passivamente, meramente observando as atividades e fotos de
seus conhecidos ou pessoas famosas, se sentiam significativamente mais tristes
e mais invejosos ao longo do tempo.
"Sabemos
que a vida nos traz dificuldades; nos sentimos bem e nos sentimos mal. Se você
está constantemente vendo como a vida das outras pessoas vai bem, vai se sentir
pior quanto a sua vida (porque), em comparação, ela parece não ir tão
bem", explica à BBC Brasil o professor associado de psicologia Ethan
Kross, coautor do estudo na Universidade de Michigan.
O jornal
The New York Times chamou atenção para o fenômeno no recém-terminado verão
americano, em meio às milhares de postagens de celebridades nas redes sociais
exibindo suas glamourosas rotinas, em fotos de corpos perfeitos, cenários
deslumbrantes e companhias igualmente famosas.
A ponto de
ter sido popularizada a hashtag "medo de estar perdendo" ("fear
of missing out" em inglês, ou #FOMO), usada nas redes sociais por pessoas
chateadas por não estarem aproveitando as férias com a mesma aparente
intensidade.
Versão
'editada'
Mas a
verdade é que poucos estão. É preciso lembrar que as redes sociais mostram uma
versão "editada" de nossas vidas.
"Quando
as pessoas postam no Facebook e redes sociais, tendem a postar coisas boas,
como fotos bonitas delas em férias. Se você está usando passivamente o
Facebook, o que você vê constantemente são esses acontecimentos positivos das
vidas dos outros que não são um retrato fiel de suas vidas nem de suas
rotinas", explica Kross.
"Todos
fazem de tudo para mostrar o seu melhor (na rede social). Quem teve um dia
absolutamente banal não vai contar no Facebook", agrega Luli Radfahrer,
professor-doutor em Comunicação Digital da ECA-USP e consultor em inovação
digital no Brasil.
Para ele, o
Facebook substituiu a TV em termos de consumo passivo e pode fazer as pessoas
perderem seu referencial.
"Se
você vê sempre todas as pessoas muito felizes enquanto você está se sentindo
frágil por qualquer motivo, aquilo vai deixá-lo triste - é instintivo. É como
se você estivesse constantemente cercado por um grupo de pressão, que só te
mostra o que faz de melhor", diz.
As
conclusões de Kross e sua equipe têm algumas semelhanças com uma pesquisa de
2012, da Universidade Utah Valley (EUA), com 425 estudantes universitários, que
indicava que usuários de Facebook por períodos mais prolongados acreditavam que
as outras pessoas eram mais felizes e tinham uma vida melhor do que a deles.
Uso
ativo
O
pesquisador americano acredita que efeitos similares possam ser observados no
Instagram, ainda que não necessariamente nas demais redes sociais, como o
Twitter.
E, de volta
ao Facebook, a pesquisa de Kross não identificou queda no bem-estar das pessoas
que usavam a rede social de forma mais ativa, ou seja, produzindo informações,
conversando com outras pessoas, postando links e interagindo com os demais
usuários.
Basicamente,
o nível de bem-estar dos usuários ativos se manteve estável.
Agora,
Kross e seus colegas querem estudar que tipo de uso da rede social melhoraria o
humor e a autoestima dos internautas.
"O uso
ativo - além de não impactar seu humor - pode ter outros efeitos positivos,
como manter as pessoas informadas sobre o que está acontecendo em sua vida
social e manter contato com as pessoas, o que traz vantagens para famílias,
carreiras. Quanto a como ampliar as emoções positivas (no Facebook), vamos
investigar", diz.
Sua
pesquisa aponta, também, que quanto mais as pessoas interagiam diretamente umas
com as outras "off-line", mais seu humor melhorava ao longo do tempo.
Para Luli
Radfahrer, uma forma de se proteger da tristeza causada pelas redes sociais é
tentar ao máximo tomar consciência dos efeitos que elas provocam.
"O
Facebook é algo novo e intenso. Primeiro, precisamos aprender a relativizá-lo
em relação a seu ambiente social e seu conteúdo. Como muita gente moveu seu
grupo social para dentro dele, o perigo é que passem a acreditar que o que
acontece ali seja um retrato fiel do que acontece na vida real", opina.
"E se
você se sente mal (com os estímulos recebidos das redes sociais), uma sugestão
é largá-las por um tempo, tirar um período sabático."
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