AS
ESQUADRAS FASCISTAS ESTÃO VOLTANDO?
Prof
Eduardo Simões
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/it/thumb/d/d0/Spedizione_punitiva_a_Roma_presso_una_sede_sindacale_socialista.jpg/1024px-Spedizione_punitiva_a_Roma_presso_una_sede_sindacale_socialista.jpg
Di
anonimo - stampa d'epoca, Pubblico dominio, https://it.wikipedia.org/w/index.php?curid=2790848
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O saudoso historiador Hélio Silva, em sua monumental obra sobre o Brasil de
Getúlio Vargas, O ciclo de Vargas,
escreveu no tomo referente a ascensão dos integralistas que a principal
“contribuição” deles à cultura política nacional, nos anos 1930, foi a inclusão
da violência sistemática como arma política – nesse item eles apenas copiavam
métodos e práticas já vigentes em movimentos congêneres na Europa: o fascismo
italiano e o nazismo alemão.
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De fato, aproveitando-se do ambiente de incertezas econômicas, efervescência
social e repulsa generalizada da população contra a corrupção asfixiante dos
governantes da época (muito diferente do que estamos passando?), Mussolini,
oriundo das fileiras do Partido Socialista, arregimentou bandos de
desempregados, neuróticos de guerra, aristocratas falidos, malfeitores e
oportunistas de todos os calibres, organizados nos fascis italiani di combattimento, as esquadras fascistas, para
darem suporte a um projeto próprio de poder, visceralmente antiliberal e
antidemocrático.
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Essas “esquadras” não passavam de “quadrilhas”, no sentido mais pejorativo do
termo, prontas para implantar, pela intimidação psicológica e a violência
física, o terror e a desmoralização em todos aqueles que se opunham ao fascismo
– ficou famosa a prática de obrigar aos opositores do regime a beber
quantidades industriais de óleo de rícino, sofrendo ali mesmo, à vista de
todos, uma diarreia tão agressiva quanto instantânea. Custa-nos crer que o
inventor dessa prática tão abominável foi Gabrielle D’Annunzio, um dos mais
brilhantes intelectuais italianos do século XX. No Brasil, a violência
integralista, de tão frequente, fez com que um dos mais famosos jornalistas da
época, Aparício Torelli, o Barão de Itararé, escrevesse bem grande na porta de
seu escritório: “Entre sem bater”. Coube a Torelli inventar uma alcunha jocosa
para esses aloprados: “galinhas verdes”, uma referência à cor de seu uniforme.
Nos dias de hoje, para permanecermos no âmbito da zoologia, nós diríamos “jararacas
hidrófobas”.
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No Brasil vemos essa tática ganhar forma por meio de fanáticos lulistas ou
jararaquistas, que, solitários ou em grupos, de tocaia em aeroportos e outros
lugares frequentados por presumidos desafetos políticos do ex-melhor presidente
do Brasil, ou por este indicados como inimigos gratuitos, prorrompem em
desaforos e gritos ofensivos variados como: “golpista”, “lacaio”, “vendido”, e
uma série de outras acusações desvairadas e perfeitamente cabíveis a eles
próprios, num atentado flagrante contra um dos direitos humanos mais básicos: o
direito a honra e ao respeito, que se deve ter, inclusive, com aquele que forem
considerados culpados em julgamento público e justo. Esses atos constituem um
acintoso, público, covarde e desmoralizante ataque à nossa frágil democracia, como
no caso recente da jornalista Miriam Leitão.
Isso não é espontâneo
nem é irracional, e tem objetivos claros: combater e liberdade de imprensa e
desestabilizar a democracia
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http://g1.globo.com
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No dia 3 de junho, em um voo comercial, a dita jornalista sofreu mais
de duas horas de agressão verbal intensa, além de outras formas de intimidação
física (empurrões na sua poltrona), feitas por uma quadrilha formada por lulistas,
devidamente caracterizados, como uniformizadas e publicamente agiam as
esquadras de Mussolini, tão seguras estavam da impunidade. Esta semana foi a
vez de Alexandre Garcia, mas como foi um caso isolado, ação de um único lulista,
pode-se dar um “desconto”. Será?
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Que ninguém se iluda o alvo, apesar do refrão insistente: “o povo não é
bobo...” não é a Rede Globo em si. Ela é alvo apenas por ser o grupo de mídia
mais forte do Brasil, se ela se calar ou minguar, eles atacarão outro não
“alinhado” mais significativo em termo de audiência, Grupo Abril, Grupo Folha,
etc. e aí começa tudo outra vez. O objetivo dessas manifestações é claro: fazer
calar, na marra, aqueles que discordarem de seu poderoso chefão.
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Mas o pior é que começam a surgir evidências de que esses ataques são
orquestrados. Em todos eles observa-se uma acusação sempre presente entre
agressores: “você(s) estimula(m) o ódio ao PT”. A culpa é da vítima! Uma
estratégia odiosa e bem bolada para desarmar o agredido, deixando-o sem ação,
mesmo quando está sendo injustamente agredido, enquanto estimula a
agressividade da fanática militância lulista.
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Outra coisa que chama a atenção nesses ataques é o deboche que esses covardes fazem
à vítima, humilhando o seu natural sentimento de indignação com tão desumano
tratamento. “Vai ficar com mimimi!” Zombam eles. A vítima é desmontada, de
dentro para fora.
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A nota oficial do PT sobre esse episódio, assinada pela senadora Gleisi
Hoffman, é no mínimo espantosa. No início, ela diz que houve apenas um
“constrangimento”, e não uma agressão moral, diminuindo a gravidade do que
ocorreu, jurando que “...Orientamos nossa militância... a não agredir qualquer
pessoa por suas posições políticas, ideológicas ou por qualquer outro motivo, como confundi-las com as empresas para as
quais trabalhem [grifo meu]...” Mas no meio da nota ela justifica a
agressão: “... muitos integrantes do Partido dos Trabalhadores, inclusive esta
senadora, já foram vítima de semelhante agressão dentro de aviões...” Afinal o
propósito é desculpar-se com Miriam Leitão ou explicar que seus militantes
estão apenas respondendo na mesma moeda? O parágrafo final é catastrófico: “Não podemos, entretanto, deixar de ressaltar
que a Rede Globo, empresa para a qual
trabalha a jornalista Miriam Leitão, é,
em grande medida, responsável pelo clima de radicalização e até de ódio por que
passa o Brasil, e em nada tem contribuído para amenizar esse clima do qual
é partícipe. O PT não fará com a Globo o
que a Globo faz com o PT”.
__ Ao “ressaltar”, que Miriam trabalha na Rede
Globo e que esta é a responsável pelo “clima de ódio”, ela desmente
absurdamente o que foi dito no início da nota, e deixa claro, mais uma vez para
a militância, que Miriam Leitão trabalha numa empresa propagadora de
“radicalização” e “ódio”. Então sim, ela é um alvo.
__ A mentira, engano, confusão mental, dignos de um
roteiro mal enjambrado, se misturam da forma mais flagrante: no mesmo dia da
nota, 13 de junho, Lula, num evento do PT, debocha grosseiramente de Miriam
Leitão, e pede, na
lata, a cabeça de dela à Rede Globo. O aviso foi claro: “ou vocês demitem a
Miriam Leitão (por não ter concordado com os desmandos econômicos de Dilma
Rousseff) ou nós continuaremos a atacá-los” – na presença de “esta senadora”
Gleisi Hoffman, que riu à larga com os deboches e mentiras lançados àquela a
quem se desculpara na nota, Lula confirma e trava o alvo sobre a jornalista,
como se dissesse: “é ela mesma; ataquem-na, e prestem um bom serviço à verdade
e à melhoria da qualidade do jornalismo no Brasil”.
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Lula aproveitou também para atacar as pessoas que estudam e fazem curso
superior, logo ele que se gaba de ser fundador de universidades! A jornalista,
por sinal, não foi a única a ser atacada no evento; sobrou ainda um grosseiro e
violento ataque ao Ministério Público Federal, (https://www.youtube.com/watch?v=fUULgD3p81g)
e aí, parece-nos, o quadro fica mais claro.
Uma estratégia de
campanha
http://www.luizberto.com/wp-content/uploads/2015/02/NA-PORRADA.jpg
http://www.luizberto.com/
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Socialismo estranho, esse do lulismo, que transforma assalariados públicos e
privados nos grandes inimigos da classe trabalhadora, toda concentrada, como a
matéria antes do big bang, na pessoa e nos interesses de Lula! Miriam Leitão, e
outros jornalistas já atacados, são assalariados da família Roberto Marinho,
dona de um dos maiores impérios de comunicação do mundo; enquanto os
procuradores do Ministério Público não passam de funcionários públicos que
buscam aplicar a lei a partir de denúncias feitas por membros da mais alta
burguesia do país: donos de empreiteiras, e de impérios de exportação colossais
que, em virtude de seu envolvimento com Lula e seus parceiros, igualmente poupados
pelos lulistas, quando não enaltecidos, como o “guerreiro” José Dirceu,
acabaram se envolvendo numa teia de crimes abjetos contra o patrimônio público,
sem falar que o segundo mais importante estado da federação foi arrastado à
beira da falência, pelo mais dileto de seus aliados. Lula deve fazer questão de
não lembrar que já disse que “votar no Sérgio Cabral é quase como uma obrigação
moral” (https://www.youtube.com/watch?v=oj9d6vIlAa8).
Hoje Cabral amarga uma condenação e dura vida atrás das grades, sem que mereça
de seu ex-padrinho e de suas esquadras o menor gesto de defesa e simpatia...
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Os inimigos são, portanto, os assalariados da iniciativa privada ou do serviço
público que, por razão de ofício, criam problemas para os projetos pessoais de
Lula, ficando os seus patrões (a burguesia) incólumes. Os lulistas, apesar do
refrão, não pensam em acabar com a Rede Globo, o que eles querem é cooptá-la na
marra, pela intimidação, já que não têm mais o dinheiro de propina para comprá-la
nem uma lei que os permita fechar a emissora, e já ficaria de bom tamanho se
ela ao menos se calesse, diante dos desmandos do partido, pois o ódio à Rede
Globo não tem razão. Quem acompanha, por essa empresa, a atual crise desde o
início, vê que a mesma firmeza com que ela bateu em Dilma Rousseff está agora
batendo em Michel Temer. O objetivo não é de fato a Rede Globo, mas o seu
jornalismo, que se tornou muito independente, e por isso perigoso ao lulismo.
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Num programa de debates da TV por assinatura, no dia 18 de junho, o repórter
William Waack afirmou que é sentimento, entre os repórteres que atendem ao
Congresso, que entre os políticos ganha corpo a tese “que se dane a opinião
pública”, prenunciando uma forte e, certamente, imoral reação contra a Lava
Jato e as investigações do Ministério Público, com apoio até de juiz do STF. O ataque
de Lula teria, portanto, um endereço certo, agora que todos os partidos estão
envolvidos na investigação, têm interesse em pará-la. A proposta poderia ser a
seguinte: “Vamos unir forças e vencer as próximas eleições. Eu saio na cabeça,
enquanto vocês me dão suporte no Congresso (pode-se prometer até a manutenção
da atual equipe econômica, que Lula evita cuidadosamente atacar, apesar de ser
esta quem está encaminhando a reforma trabalhista e da previdência, oficialmente
lesiva aos interesses da classe trabalhadora: é só ver o vídeo), aí a gente
cala esses jornalistas mais afoitos, encurrala, no Congresso, com o apoio de
minha gente nas ruas, o Ministério Público e amansa o STF, enquanto a opinião
pública mudará como que por inércia. Ninguém se espante se ouvir de novo o
sibilo ou estribilho “paz e amor”.
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Os ataques vão continuar. Se o governo e as autoridades não fizerem nada para
deter tais desrespeitos aos direitos humanos eles, os lulistas, se aproveitarão
para dizer lá fora que no Brasil não tem lei e por isso Lula não pode ser
culpado de nada, mas se o Estado agir, e em conformidade com a lei e punir
esses descalabros eles decerto procurarão passar, lá fora, a ideia de que os “movimentos
sociais” estão sendo reprimidos por um governo ilegítimo e corrupto. Não é hora
de se fingir de morto.
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Aproximamo-nos perigosamente de situação análoga à que havia na Itália antes da
ascensão do fascismo, com um governo paralisado, desmoralizado, por seus
próprios crimes, acuado por grupos raivosos nas ruas. Eu só não esperava que eles
menosprezassem tanto assim o povo brasileiro, a ponto de imaginar que conseguirão
com berros e ameaças o que os fascistas italianos só conseguiam como muito óleo
de rícino.
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