COVARDIA
À BRASILEIRA
Eduardo
Simões
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O mal está feito! Nada menos de 50 foram os mortos e feridos na tragédia de
Janaúba, a maioria crianças entre 3 e 4 anos, num dos maiores ataques a escola
já acontecidos na história... do mundo – em Columbine, onde dois transtornados
invadiram a escola com fuzis automáticos, foram 15 mortos e 24 feridos! Isso
foi inesperados e pegou-nos a todos de surpresa? A resposta é um estrondoso “NÃO”.
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Dia após dia os canais de televisão relatam episódios de agressões covardes e
sangrentas contra professores e alunos, partindo principalmente deste e de
agentes estranhos ao ambiente, sem que se tome qualquer atitude ou sequer se
abra um debate sobre o que fazer para melhorar a segurança ou a resposta das
escolas em caso de ataques semelhantes; e não se pode sequer alegar que não
houve ataques com vítimas fatais.
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Em 2003, o estudante, Edmar Aparecido Freitas, que sofria bullying por ser
obeso, invadiu a EE Coronel Benedito Ortiz, em Taiúva, São Paulo, e efetuou 14
disparos contra alunos e professores que estavam no pátio da escola, ferindo a sete
ou nove deles, se matando em seguida. Uma escola pequenina, numa cidadezinha
desconhecida, pouco mais de 5 mil habitantes, e um reles filho de humildes
agricultores. Quem dá bolas para isso?
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Em 2004, um jovem, com fama de introvertido e se propondo a matar uma
professora de quem não gostava, invade uma escola de informática, em Remanso,
na Bahia, matando uma funcionária, ferindo outras três pessoas – antes já havia
morto a um vizinho adolescente, que o provocara outro dia – até ser preso. Beneficiado
pelo fato de ser menor na época, 17 anos, sequer sabemos o seu nome.
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Em abril de 2011, aconteceu aquele que era, até agora, o mais espetaculoso
ataque a escola já acontecido no Brasil: o massacre de Realengo, no Rio de
Janeiro, na Escola Municipal Tasso da Silveira, quando o ex-aluno, Wellington
Menezes de Oliveira, um tipo muito introvertido e excessivamente ligado à
Internet, invadiu a escola e começou a atirar a esmo nos alunos, até ser detido
e morto por sargento de uma patrulha da PM, que providencialmente passava no
local, mas que ainda assim não impediu 13 mortos e 22 feridos. Duas coisas
chamaram a atenção nesse ataque a Realengo: a atitude dos professores, correndo
para se salvar, deixando seus alunos sob fogo, e a espalhafatosa reunião do
Governador Sérgio Cabral e do Prefeito Eduardo Paes, na quadra de esportes da
escola, procurando obter visibilidade com a tragédia, afinal todas as TVs do
Brasil estavam focadas na tragédia. Para Cabral a coisa toda era muito simples:
o atirador não passava de “psicopata, animal”. Mais que ele?

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/84/S%C3%A9rgio_Cabral_e_Eduardo_Paes_na_Escola_Tasso_da_Silveira.jpg/1024px-S%C3%A9rgio_Cabral_e_Eduardo_Paes_na_Escola_Tasso_da_Silveira.jpg
Por
Shana Reis/ Governo do Estado do Rio de Janeiro - O governador e o prefeito do
Rio de Janeiro falam sobre a tragédia em Realengo, CC BY 3.0 br, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=14830863
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Já que tudo não passava de psicopatia e “animalidade” do agressor, não havia, e
nem há, necessidade tomar medidas de segurança para as escolas públicas, que em
geral custam caro, ou pelo menos mais do que os senhores ilustres políticos
brasileiros estão dispostos a pagar, afinal essas escolas só acolhem “negros” e
“pobres”, e, por conseguinte, nada foi feito para evitar casos futuros, sequer
preparar os professores para que, em casos semelhantes, saibam o que fazer para
proteger melhor os seus alunos, parecido com os treinamentos recorrentes que
fazem os professores nas escolas americanas. Será que é por que os filhos de
políticos e autoridades não costumam frequentar esse “tipo” de escola.
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Para que ninguém fique duvidando se realmente alguma coisa mudou nesses 14 anos,
quando o Ministro da Educação Mendonça Filho (no alto) esteve em Janaúba, após
a chacina, disse que “o modo como aconteceu foi uma situação que mesmo se tendo
o melhor, em termos de segurança, não é fácil prever”. Falou quase tudo para
não dizer nada. Ou seja, foi mais uma fatalidade, ou como já vi alguns
diretores dizer, quando questionados sobre alguma violência em sua escola ao
longo desses anos: “foi um fato isolado”. É claro que o senhor Ministro está
poupando o prefeito da cidade, Carlos Isaildon Mendes, que já afirmara ser a
tragédia “imprevisível”, da enorme responsabilidade de deixar funcionar uma
pré-escola em um prédio sem o alvará dos bombeiros, e sem um único... “extintor de incêndio”, afinal ele é
membro do dileto partido aliado ao do Ministro, o PSDB - Mendonça é do DEM. Se
alguém duvida que a escola ficará mais perigosa com a municipalização, depois
de Realengo e Janaúba é melhor “por as barbas de molho”.
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Por falar em município e na Prefeitura de Janaúba, corre na justiça um processo
interminável contra um dos mais longevos prefeitos da cidade Ivonei Abade
Brito, também do PSDB, acusado de fraudar concorrência, falsificar documentos e
comandar uma quadrilha para grilagem de terras públicas. Por falar em Ivonei
Abade, foi justamente no último ano de mandato deste prefeito, que o assassino
das crianças começou a trabalhar na creche. Que ironia que o partido tão
vinculado à destruição das escolas paulistas e brasileiras, por meio da
imitação de modelos alienígenas mal costurados e de uma política obsessiva de “enxugamento
de gastos”, esteja tão ligado a esse que é, até hoje, a maior, mais cruel e
mais covarde chacina da educação brasileira!
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Que fazer se estou inquieto e só? No início do ano que vem, por conta da
municipalização, do enxugamento e do novo Ensino Médio, engendrado em São Paulo
do PSDB, duas comunidades juvenis grandes, poderosas e mutuamente hostis de
minha cidade, deverão ser reunidas, à força, numa única unidade escolar, antiga
e imprópria para este uso, fazendo-nos temer mais um ou vários episódios horrorosos,
entre os muitos que ocorrem diariamente nas nossas escolas, cuidadosamente varridos
para debaixo do tapete, sob a etiqueta de “fato isolado”.
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Quem valerá as nossas crianças e os nossos jovens?